O secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Germano Vieira, disse nesta segunda-feira (20) que a probabilidade de a barragem da mineradora Vale, em Barão de Cocais, se romper é de 10% a 15%. Germano ainda confirmou que o talude, que está a menos de 2 km da barragem, vai se romper sem dúvida.

“O rompimento do talude vai acontecer. Há uma questão imponderável se esse rompimento do talude na cava, ele vai afetar a barragem. Isso não é possível precisar. Adianto para vocês que o consultor desta auditoria independente, que é uma empresa estrangeira, registrou que esta chance é de uma em dez ou uma em oito. O que levaria de 10% a 15% de probabilidade”, disse o secretário.

Autoridades de vários órgãos do estado estão reunidas nesta segunda-feira (20) em um lançamento de um plano de capacitação dos agentes públicos para ações de segurança de barragens.

O governador de Minas Geris, Romeu Zema (Novo), disse durante a abertura do evento que o estado vive “o pior momento possível” ao se referir à situação de tensão em Barão de Cocais.

A Defesa Civil do estado já fez dois treinamentos com a população de Barão de Cocais simulando os alertas que serão emitidos caso a barragem se rompa. De acordo com o chefe do Gabinete Militar e coordenador da Defesa Civil de Minas, coronel Evandro Borges, há 600 barragens no estado, sendo 400 delas ligadas à mineração.

Ainda segundo o secretário de Meio Ambiente, o desabamento do talude pode causar dois cenários preocupantes: o rompimento da barragem Sul Superior, que é o mais grave, e o transbordamento da água da cava, água esta que pode atingir rios da região.

Germano disse, ainda, que a movimentação do talude é um evento normal na mineração, mas o talude da mina apresentou uma intensificação destes movimentos nos últimos meses e que, por isso, a mineradora comunicou as autoridades e classificou o evento como grave.

“Quando a empresa avisa, e quando é verdadeira e franca, os órgãos têm tempo para agir e orientar à população. Toda atividade humana tem um risco. O risco zero é não ter barragem”, afirmou o secretário.

Sobre o cenário de transbordamento da água da cava após o desabamento do talude, Germano disse que especialistas calcularam que este material deve transbordar em direção leste, situação um pouco mais tranquila mas que não diminui a preocupação. A barragem está a 1,5 quilômetros da cava e pode não ser atingida pela água. Mas os leitos dos rios da região podem receber esses rejeitos.

O que disse o governador

Romeu Zema disse que a angústia vivida pelos moradores de Barão de Cocais e pelo estado como um todo é ainda pior do que o fato em si.

“Eu diria que o momento que nós estamos vivendo, neste pós-Brumadinho, é o pior possível. Todos aqui sabem, já vivenciaram isso, que pior do que um fato ruim é a possibilidade de um fato ruim acontecer. Nós, seres humanos, simplesmente não sabemos viver com incerteza. Isso nos causa uma angústia enorme”, falou o governador na abertura do evento, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte.

Ao citar “pós-Brumadinho”, Zema se referiu ao rompimento da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, também da mineradora Vale, que aconteceu no dia 25 de janeiro deste ano na cidade da Região Metropolitana da capital. Duzentos e quarenta e um corpos de vítimas já foram identificadas e o Corpo de Bombeiros mantém as buscas por mais 29 pessoas que são consideradas desaparecidas.

O governador disse ainda que a mineração não tem como acabar no estado, mas que é possível tornar a atividade econômica mais segura, seguindo exemplo de países como Canadá, Austrália, Chile e África do Sul.

Zema ainda pediu aos agentes públicos que lidam diretamente com a população “paciência e tolerância” porque, muitas vezes, as pessoas estão podem estar angustiadas e desorientadas diante da possibilidade de um desastre.

Por fim, o governador afirmou que culpados devem ser punidos, mas “muito mais do que culpados, nós precisamos ter soluções, porque somente dessa maneira nós vamos ter um futuro promissor”.

Defesa Civil

Cerca de 60 representantes de defesas civis de municípios com população estabelecida em áreas abaixo de barragens de mineração foram convidados a participar do workshop.

Um dos pontos da capacitação do plano de segurança é o empoderamento destas defesas civis municipais, de forma que elas consigam trabalhar de forma preventiva e evitar desastres.

“Estamos trazendo os coordenadores de Defesa Civil das cidades para a gente discutir temas como prevenção, preparação e mitigação dos riscos. Tornar essa mentalidade da prevenção como algo mais substancioso.

Obras de contenção na barragem

A Vale informou que começou, na última quinta-feira (16), a terraplenagem para a construção de uma contenção de concreto a seis quilômetros abaixo da barragem Sul Superior. O objetivo da estrutura é reter grande parte do volume de rejeitos caso a barragem se rompa.

Além disso, a mineradora está instalando telas metálicas e posicionando de blocos de granito para reforçar esta barreira física contra um possível vazamento da barragem.

Os cerca de seis mil moradores estão dentro da zona secundária de salvamento (ZSS). Neste perímetro, a onda de rejeitos pode chegar em cerca de uma hora e 12 minutos. Outros 443 moradores da zona de autosalvamento já foram retirados de suas casas em fevereiro, quando o nível de segurança da barragem foi elevado para 2. Já em março a estrutura entrou em alerta máximo de rompimento com o nível elevado para 3.

A Defesa Civil afirmou que já tem uma equipe de plantão na cidade e mais agentes estão a caminho nesta sexta-feira (17). Disse também que Barão de Cocais está toda sinalizada com as rotas de fuga e que a Prefeitura inclusive teve a iniciativa de pintar os caminhos nas vias.

Fonte: G1