Em frente a um supermercado em, área nobre de Fortaleza, pessoas em situação de vulnerabilidade esperam um caminhão de lixo para procurar e coletar restos de alimentos. O registro foi feito pelo motorista de aplicativo André Queiroz, de 39 anos, no dia 28 de setembro, mas as imagens foram postadas em sua rede social somente no último domingo (17). O profissional passava pela Rua Bento Albuquerque, no bairro Cocó, por volta das 9h30, quando avistou a cena e se chocou com o que estava presenciando. Queiroz disse que fez o vídeo para mostrar a realidade de Fortaleza para a sua namorada, que mora em outra cidade.

“A gente acaba se emocionando, por mais que a gente reclame dos problemas da rotina, temos o que comer. Essas pessoas só estavam tentando alimentar suas famílias”, comentou o motorista.


Uma funcionária do supermercado, que não quis se identificar, disse para o UOL que essa cena é corriqueira. A moça trabalha no local há cinco anos, mas conta que a situação piorou depois da pandemia. “Uma a duas vezes por semana, os moradores de rua vêm pegar comida aqui nesta rua, normalmente são frutas e verduras estragadas ou machucadas”, destacou.

Ainda segundo a funcionária, várias mães com seus filhos fazem parte do grupo que pega comida do caminhão de lixo. “Às vezes, as crianças também entram no caminhão para pegar algum alimento”, contou.

No Estado, até junho de 2021, conforme os dados mais atualizados disponíveis pelo Ministério da Cidadania, 5,1 milhões de residentes do Ceará estavam em situação de pobreza e extrema pobreza, inseridos em famílias cuja renda varia de meio salário mínimo por pessoa até 3 salários mínimos de renda mensal total.

Até o momento desta publicação, o vídeo contava com 1,2 milhão de visualizações e quase 10 mil comentários na plataforma.

Esse tipo de situação vem sendo registrado em várias localidades do Brasil. Em julho, o UOL mostrou dezenas de pessoas aguardando ao sol em uma longa fila, em frente a um açougue da periferia de Cuiabá, no Mato Grosso, para conseguir levar para casa pedaços de ossos doados pelo estabelecimento.

Em setembro, a fome levou moradores do bairro da Glória, no Rio de Janeiro, a disputar restos de carne e ossos em um caminhão que distribuía os produtos.

Em outubro, em Santa Catarina, após açougues serem flagrados comercializando ossos de boi por até R$ 4 por quilo, o Procon teve que emitir uma recomendação aos estabelecimentos para que não comercializassem ossadas, permitindo apenas doações.

A carne vermelha acumula alta de 30,7% em 12 meses, segundo os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com alta da inflação e 14,1 milhões de desempregados, o consumo do alimento diminuirá em quase 14% neste ano, se comparado a 2019, antes da pandemia.

Substitutos para a carne

Com a alta dos preços, os brasileiros estão sendo obrigados a procurar substitutos para a carne, mesmo que os alimentos sejam menos nutricionais. Muitas famílias estão tendo que consumir, por exemplo, pé, pescoço e miolos de galinha.

Segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, em 2020 a fome atingiu 19 milhões de brasileiros.

Já o relatório “O Vírus da Fome se Multiplica”, da Oxfam Brasil, revelou que o número de pessoas vivendo em situação de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. E mais 20 milhões de pessoas foram lançadas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar.

Fonte: UOL

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