A assistência técnica extensão rural (ATER) associada à mecanização agrícola tem forte impacto na vida de agricultores e agricultoras familiares de comunidades Quilombolas como as dos municípios de Souto Soares e Morro do Chapéu, localizados no território Chapada Diamantina.   

Nessas comunidades, para atenuar os efeitos da compactação do solo e adequá-lo para o plantio, foi utilizada a tecnologia da subsolagem, um procedimento agrícola que promoveu a descompactação do solo e favoreceu o cultivo da mandioca, cultura tradicional na região. Todo o processo contou com a orientação de técnicos de ATER contratados pelo Governo do Estado, por meio do projeto Bahia Produtiva, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR).   

O engenheiro agrônomo Jessé Moreira, do Centro de Formação e Organização Comunitária (Ceforc), explica a importância do subsolador para a descompactação do solo. “Pela característica do solo argiloso, as partículas são mais finas e compactam com mais facilidade. E quando o solo está compactado, a água não filtra, tem apenas um escorrimento superficial e evapora dali mesmo. Já com o subsolador, ele quebra o solo, faz essa descompactação, a água consegue chegar às partes mais profundas, carregando os nutrientes e, aos poucos, ela vai subir pelas forças de ação e coesão da água, infiltrando-se pelo solo”.  

Segundo Jessé, o solo vermelho possui uma boa fertilidade, mas o manejo sucessivo e inadequado dificultava o processo de conservação do solo. Após a subsolagem, agricultores e agricultoras familiares estão realizando a cobertura do solo e a adubação com matéria orgânica para manter o ciclo de nutrientes e não compactar o solo novamente. 

Maria Rita Neta, presidente da Associação Renascer dos Agricultores Familiares do Povoado de Matinha e Região, em Souto Soares, reconhece a importância da assistência técnica para os avanços. “A gente não sabia plantar. Antigamente, a gente abria a cova funda, apertava a maniva e, às vezes, já descascava, o que já estragava ela. Além disso, colocava uma barreirinha por cima e ainda pisava em cima, o que estragava mais um pouco. Ainda costumava queimar a roça depois do uso. E agora não. Melhorou bastante porque clareou para a gente como é que se planta”. 

Segurança alimentar e geração de renda  

A ampliação no cultivo da mandioca a partir da subsolagem favoreceu a comercialização dos derivados de mandioca da comunidade, assim como os investimentos do Governo do Estado na entrega de uma nova cozinha comunitária, com novos maquinários para a fabricação dos pães, bolos e biscoitos.  

A agricultora Hildergard Anjos, da comunidade Matinha, ressalta a evolução, tanto na área de produção quanto no processamento dos produtos, inclusive com os cursos de aperfeiçoamento das receitas, oferecidos pelo Ceforc. “Melhorou desde a raiz, da nossa matéria-prima até o maquinário, para desenvolver os produtos. Depois do Bahia Produtiva, passamos a produzir outros produtos como o panetone de aipim”. 

Queimada Nova 

Na comunidade Queimada Nova, em Morro do Chapéu, além do subsolador, as orientações favoreceram a criação das galinhas caipiras. Uma das estratégias utilizadas foi o aproveitamento do terço superior e da raiz da mandioca para a utilização como ração nos galinheiros, construídos via Bahia Produtiva.  

O processo reduziu o custo da compra da ração por parte de agricultores e agricultoras familiares como Faraildes Queiroz. “Melhorou bastante a minha vida. Foi um sucesso! Eu mesma faço as rações. Pego as folhas secas, as vagens, um pouco de leucena, um pouco de folha de andu, a mandioca, o milho. Aí mistura tudo e já tenho a ração pronta, sem precisar comprar. Porque comprar fora hoje em dia é caro. Hoje, eu tiro uns R$ 800,00 em tudo, porque tem a galinha, os ovos, o aipim, o coentro, e, assim, eu vou vendendo. Eu me sinto tão alegre com esse galinheiro”, celebra. 

O Bahia Produtiva é um projeto executado pela CAR, empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com cofinanciamento do Banco Mundial.