A polícias da Bahia e do Rio de Janeiro tentaram prender, num condomínio na Costa do Sauípe, o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, 43, acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado.

© Pedro França/Agência Senado

Ele também é citado na investigação que apura a prática de “rachadinha” no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

A operação da Polícia Civil dos dois estados, contudo, não teve êxito no litoral baiano: Nóbrega não estava no local, só sua mulher, Júlia Melo, e duas filhas do casal, uma de 17 anos, outra de 7. Elas estariam passando férias no endereço.

O ex-policial, que já foi capitão do Bope, está foragido há mais de um ano. No rol de acusações contra ele estão ter envolvimento em diversos homicídios no Rio e ser sócio no jogo de máquinas caça-níqueis. Seria chamado de “patrão” por membros da milícia de Rio das Pedras, a mais bem estruturada do Rio.

A operação foi comandada por policiais civis do Rio, com base numa ordem de prisão expedida em 2019. Segundo a corporação policial da Bahia, uma equipe de sua Coordenação de Operações Especiais “prestou apoio a uma operação para cumprimento de mandado”.

À revista Veja Júlia disse que a operação foi truculenta. “Eles quebraram a minha porta, arrancaram o forro do teto da casa, me xingaram de puta e piranha, e botaram um fuzil na cabeça de uma criança de sete anos, perguntando: ‘Onde está o seu pai?'”.

A Polícia Civil baiana diz que eventual desvio de conduta de algum agente que participou da ação será investigado pela Corregedoria da Polícia Civil da Bahia, “assim que o caso for devidamente notificado”.

A Polícia Civil do Rio diz que recebeu informações sobre o paradeiro de Nóbrega e enviou um delegado e dois agentes de sua subsecretaria de inteligência para o estado nordestino.

Nesta semana, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob o comando do ex-juiz Sergio Moro, não incluiu o ex-capitão Adriano na lista dos mais procurados do Brasil.

De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas pelo ex-capitão foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, suposto operador do esquema no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz é amigo do presidente da República.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete do senador Flávio. Mensagens interceptadas com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da mulher, Danielle da Nóbrega, do cargo.

Ele também foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, quando foi condenado por um homicídio. O ex-capitão seria absolvido depois em novo julgamento.Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.

Ele está foragido desde janeiro de 2019 quando foi deflagrada a Operação Os Intocáveis, contra acusados de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Meses antes da operação, ele trocou mensagens com a mulher Danielle da Nóbrega sobre sua exoneração do cargo. Quando a ex-assessora de Flávio se queixa de sua exoneração em novembro, Adriano afirma que “contava com o que vinha do seu tmbm [também]”. Para o Ministério Público, a frase revela que o ex-capitão também ficava com parte do salário dela.

Em outro diálogo, Adriano afirma que iria conversar com Queiroz sobre a exoneração, a fim de evitá-la. O ex-assessor de Flávio é chamado apenas de “amigo”.

Apesar das transações financeiras, as mensagens também mostram que a família Bolsonaro se preocupava com a eventual vinculação do gabinete de Flávio com o ex-capitão.

“Sobre seu sobrenome… Não querem correrem risco, tendo em vista que estão concorrendo e visibilidade que estão. Eu disse que vc está separada e está se divorciando”, escreveu Queiroz para Danielle em dezembro de 2017.

A ex-assessora explica que permanecem casados, mas “separados de corpos” e pede para ser mantida no cargo. Ela ficou até novembro de 2018.

Na ocasião desta troca de mensagens, Adriano não era considerado foragido e não respondia mais a ações penais. Ele já havia sido expulso da Polícia Militar em 2014 porque, para a corporação, ele atuou como segurança de um bicheiro.

Não há nas mensagens nenhuma indicação de que Queiroz e a família Bolsonaro soubessem da atuação de Adriano com a milícia de Rio das Pedras.

Fonte: Folhapress