Rio de Janeiro Na manhã desta quarta-feira (25/5) subiu para 24 o número de mortos registrados no confronto entre policiais e criminosos na favela Vila Cruzeiro, na zona norte, do Rio de Janeiro. Os últimos dois óbitos aconteceram no Hospital Estadual Getúlio Vargas, a pouco mais de 1 quilômetro de distância da favela, onde foi deflagrada a operação das forças policiais na manhã de terça-feira (24/5).

De acordo com a polícia, entre os mortos, pelo menos 15 são de suspeitos de envolvimento com o tráfico. Há ainda o óbito de uma mulher que foi atingida por bala perdida dentro de casa. A cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, segundo informou a polícia, foi morta por um tiro de arma de longa distância, que teria sido feito por criminosos.


Após o tiroteio, o secretário-geral da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, lamentou a morte de Gabrielle. “O objetivo nunca é esse, a senhora que foi vitimada. Então, nossa operação já começa muito comprometida nesse aspecto”, disse.

A PM informou que o objetivo da ação era prender em flagrante mais de 50 traficantes que estavam em comboio em direção à favela da Rocinha. O plano teria sido frustrado quando uma das equipes à paisana foi descoberta pelos suspeitos e foi atacada.

Após repercussão da ação, o Ministério Público Federal instaurou procedimento de investigação criminal para apurar a legalidade da operação,

Tensão no hospital

Ao longo da terça, na entrada do hospital foi possível dimensionar o conflito, que é o segundo mais letal já registrado no RJ – fica atrás apenas do Jacarezinho, que registrou 28 mortos. Carros de moradores e viaturas policiais desembarcaram corpos ou feridos na portaria da unidade.

Um desses feridos foi identificado como Natan Werneck, de 21 anos. Antes de morrer, ele pediu socorro por celular a um parente.

A família pediu ajuda ao advogado Gilberto Santiago, da Comissão de Direitos Humanos da Anacrim (Associação Nacional de Advogados Criminalistas),

Ao entrar na favela, Santiago conseguiu localizar Natan, em um ponto da mata que contorna a comunidade. “Encontrei três baleados no local. Mas apenas um deles (Natan) quis ser socorrido. Os outros não quiseram por medo de morrer”, disse o advogado ao Metrópoles.

Natan foi atingido por um tiro nas costas. Com a ajuda de Santiago, ele chegou a ser colocado na caçamba de um carro, mas morreu ao chegar no Getúlio Vargas.

“Era um cenário de guerra, com sangue pelas ruas”, descreveu o advogado.

Sangue na calçada

Na porta do Getúlio Vargas, Eliane da Costa, 44, auxiliar de serviços gerais, aguardava notícias do irmão, baleado no testículo e no tornozelo.

Segundo a irmã, Edson Ferreira da Costa, 41, estava na rua quando foi atingido. Ferido, pediu ajuda a uma vizinha que o levou para dentro de casa.

Eliane correu até a residência para ajudar a socorrer o irmão. A dona da casa chegou a lavar a calçada para tirar o sangue do local. Mas não foi o suficiente para afastar a atenção da polícia, que bateu à porta.

“Me deram bom dia e perguntaram se poderiam entrar. Disse que que sim e começaram a revistar a casa. Quando viram meu irmão no quarto, começaram a me esculachar”, relatou a moradora ao Metrópoles. “Me chamaram de piranha, vagabunda. Disseram que eu estava mentindo para a polícia”.

Resgate em caçamba

Eliane diz que o irmão trabalhava em um bar da comunidade e não tinha envolvimento com o crime. Já a Polícia Militar o apontou como motorista de um chefe do tráfico da facção local.

Com a ajuda de um vizinho, que emprestou uma cadeira de rodas, Edson foi transportado na caçamba de um carro.

No final da noite, o Hospital Getúlio Vargas informou que o paciente, sob custódia, foi transferido para UPA da Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP).

Assim como Eliane, outros familiares de feridos e mortos que passaram pelo Getúlio Vargas expressaram indignação após o resultado da operação policial na Vila Cruzeiro.

PM aponta ofensiva do tráfico

A PM alega que a operação foi deflagrada após o setor de inteligência detectar a mobilização de um grupo de 50 criminosos para atacar a favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio.

“A intenção era que essa operação fosse feita fora da comunidade. O grupo estaria indo para outra região, da Rocinha. De forma emergencial, tivemos que iniciar a operação com autorização do Ministério Público. O objetivo era fazer a prisão desses homens em flagrante”, disse Uirá do Nascimento Ferreira, o tenente-coronel do Bope, em entrevista coletiva após a ação.

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou uma investigação sobre a legalidade da operação policial realizada na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, que contou com a participação de policiais militares e agentes da Polícia Rodoviária Federal.

Fonte: Metropóles

Siga-nos no Instagram e acompanhe as notícias no Google News – Participe do nosso grupo no WhatsApp