BAHIA

Mãe diz que adolescente obedeceu ordem policial para colocar mãos para cima antes de ser morto: ‘Deram um bocado de tiros’

O adolescente Caíque dos Santos Reis, de 16 anos, obedeceu a ordem policial para colocar as mãos para cima antes de ser morto com diversos tiros, no domingo (28), no bairro de São Marcos, em Salvador. Essa é a versão apresentada pela mãe dele, Joselita dos Santos Cruz, e dos moradores da comunidade.

Já a Polícia Militar disse que Caíque foi morto durante uma troca de tiros com agentes da corporação. Um outro homem, que ainda não foi identificado, também foi baleado e não resistiu aos ferimentos.

Em entrevista para a TV Bahia, Joselita dos Santos Cruz afirmou que Caíque não tinha envolvimento com a criminalidade. O adolescente não tinha passagem pela polícia.

A mãe do adolescente contou ainda que estava em casa, quando foi chamada pelos vizinhos. Ao chegar no local, encontrou Caíque morto.

“O menino estava andando e eles mandaram colocar as mãos para cima. Quando ele colocou, deram um tiro na perna da criança e depois levaram lá para dentro, deram um bocado de tiros e disseram que foi troca de tiros”, disse, emocionada.

“Colocaram ele como traficante que foi encontrado com armas e drogas. Meu filho não traficava, não fazia nada disso”.

Uma testemunha, que por medo preferiu não ter a identidade revelada, deu mais detalhes do que teria acontecido no bairro.

“Eu vi, não estou mentindo. A polícia mandou ele correr. E ela, a mulher [PFEM], deu um tiro na perna dele… O levou para um beco e deflagrou mais disparos”, relatou.

Após a saída dos militares, moradores do bairro fizeram uma manifestação, em um trecho da Avenida Gal Costa, nas proximidades de onde aconteceu a ação policial. Eles queimaram objetos na rua e cobraram justiça. Duas pessoas disseram que foram atingidas por balas de borracha.

“Só ouvi os sons dos tiros. Entrei em pânico, comecei a orar aqui, pedindo: ‘Deus, cadê você? Jesus? A comunidade é sua”, disse a moradora Noelia Carvalho.

No entanto, em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver que os baleados deixaram o bairro desacordados, carregados pelos policiais, enrolados em lençóis, e sob protestos de “assassinos”.

“Eu só queria meu filho aqui, agora. Eles tiraram a vida de uma criança. Todo mundo gritando, tem filmagem, tem tudo”, lamentou a mãe de Caíque.

Nesta segunda-feira (29), o policiamento foi reforçado na região. Ainda não há detalhes sobre o velório e sepultamento do adolescente.

O que diz as polícias

Segundo a Polícia Civil, a ocorrência do caso aponta que policiais militares faziam rondas na região, quando se depararam com dois suspeitos armados, que começaram a atirar contra eles.

Ainda conforme o relato, houve o revide e, após o cessar dos tiros, os dois foram levados para o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no Cabula, mas não resistiram.

Ainda segundo a ocorrência, foram apreendidas armas e drogas com a dupla. O material foi apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde o caso foi registrado.

Veja abaixo a íntegra da nota da PM:

“A Polícia Militar da Bahia (PMBA) informa que, na manhã deste domingo (28), equipes do Batalhão Gêmeos realizavam patrulhamento na Avenida Gal Costa, bairro de São Marcos, quando receberam informação sobre a presença de indivíduos armados na localidade conhecida como São Domingos.

Diante da denúncia, as guarnições se deslocaram até o ponto indicado. Durante a incursão, um grupo de homens efetuou disparos contra os policiais, que reagiram. Encerrado o confronto, dois suspeitos foram encontrados feridos e socorridos imediatamente para uma unidade de saúde, onde não resistiram.

Na ação foram apreendidos uma pistola calibre 9mm, um revólver e porções de entorpecentes (maconha, cocaína e crack). O material foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que ficou responsável pelo registro da ocorrência.

As armas empregadas pelos policiais foram apresentadas à perícia técnica, em cumprimento aos protocolos legais. O Departamento de Homicídios instaurou investigação para apurar as circunstâncias do fato.

O Comando da PMBA, através da Corregedoria, acompanha o caso e reafirma que todos os desdobramentos serão analisados com a isenção e a transparência necessárias, em cooperação com os órgãos competentes”.

Fonte: G1 Bahia

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