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Anúncio de candidatura de Flávio provoca rachadinha na direita

O anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República movimentou o campo da direita brasileira nesta sexta-feira (5), gerando manifestações públicas e avaliações reservadas entre aliados e dirigentes partidários. A decisão ocorre com o respaldo declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro, preso desde 22 de novembro e inelegível desde 2023, após ser condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

A confirmação do nome de Flávio para disputar o Planalto em 2026 provocou impacto imediato no mercado financeiro. O dólar encerrou o dia com alta de 2,31%, enquanto o Ibovespa recuou 4,31%, refletindo a leitura de que o senador encontra dificuldades para avançar sobre o eleitorado de centro. Nomes como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR) eram considerados alternativas mais competitivas nesse espectro político.

Horas antes do anúncio, o presidente do PP, Ciro Nogueira, já havia manifestado preferência pela capacidade de articulação de Tarcísio e Ratinho Jr. Após a divulgação da pré-candidatura, este veículo ouviu integrantes da direita alinhados ao bolsonarismo e setores mais distantes do ex-presidente, que apresentaram argumentos distintos sobre o nome de Flávio.

Argumentos apresentados por aliados de Flávio

A ala mais próxima a Jair Bolsonaro afirma que Flávio é o integrante “mais habilidoso” do núcleo familiar, destacando sua capacidade de diálogo e postura considerada mais calculada. Para esses aliados, o senador reúne condições de atrair a centro-direita sem perder o apoio da base fiel ao ex-presidente.

Segundo essas lideranças, o piso eleitoral do bolsonarismo seria suficiente para garantir Flávio no segundo turno contra Lula, tese repetida pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A associação automática ao nome do pai — que se manteria naturalmente, inclusive na urna — é vista como uma vantagem em relação a outros candidatos.

Aliados também defendem que Flávio pode centralizar o debate sobre segurança pública, tema que ganhou destaque após a megaoperação realizada no Rio de Janeiro em 28 de outubro, que deixou 122 mortos. A questão deve ser um dos eixos da campanha de 2026, com potencial de desgaste para o PT e para Lula.

Argumentos contrários levantados por setores da direita

Já segmentos da direita menos alinhados ao bolsonarismo reconhecem o potencial eleitoral de Flávio, mas afirmam que a rejeição ao nome Bolsonaro cria um teto que pode favorecer Lula. Para esses grupos, a repetição da polarização de 2022 enfraquece a capacidade de ampliação do senador.

O presidente do União Brasil, Antonio de Rueda, defendeu nas redes sociais que o país deve evitar uma nova disputa polarizada, afirmando que o caminho desejado é o da “construção”. Há também preocupação de que uma candidatura de Flávio priorize pautas morais e identitárias, deixando temas econômicos, fiscais e de crescimento em segundo plano.

Lideranças políticas ressaltam ainda que episódios passados envolvendo o senador continuam repercutindo, como as investigações sobre as chamadas rachadinhas e sua relação com o ex-assessor Fabrício Queiroz. Outro episódio citado é o mal-estar sofrido por Flávio em um debate na campanha para a prefeitura do Rio, em 2016, quando precisou ser amparado por adversários após passar mal ao vivo na TV.

Como pano de fundo, aliados e críticos observam que a pré-candidatura do senador recoloca a família Bolsonaro no centro da disputa presidencial e reacende debates sobre o futuro da direita no país.

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