O jantar para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) organizado pelo ministro Fábio Faria (Comunicações) na casa de Washington Cinel – dono da Gocil, do ramo de segurança-, nesta quarta-feira (7), repercutiu mal entre grandes empresários que não participaram do encontro.
Segundo alguns deles, que conversaram com a reportagem com a condição de que seus nomes fossem mantidos em sigilo, o sentimento geral nesta quinta-feira (8) era de indignação e até irritação ao saberem que Bolsonaro havia sido ovacionado com efusivos aplausos após falar que seu governo está fazendo o máximo possível para garantir a imunização da população e destacar que o Brasil é um dos poucos países do mundo que fabricam a vacina contra Covid-19.
Em grupos de troca de mensagens mantidos por esses empresários, os comentários eram críticos, sinalizando que a polarização em relação ao governo Bolsonaro está se acentuando no mundo dos negócios. Alguns afirmavam que os participantes do jantar se dividiam em dois grupos distintos: os irrelevantes e os adesistas, aqueles que sempre apoiam o governo da vez, independentemente da ideologia partidária. Um banqueiro que não participou do encontro afirmou que o grupo presente não representa o empresariado nacional.
O jantar foi organizado com o objetivo principal de tentar passar a imagem que o presidente tem trânsito no meio empresarial, justamente no momento em que muitas lideranças cobram do governo agilidade na vacinação contra a Covid-19.
Porém, destaca esse banqueiro, é claro que os nomes foram escolhidos a dedo -e citou o fato de que nenhum dos convidados havia aderido à carta aberta assinada por economistas, banqueiros e empresários que pediam medidas mais eficazes de combate à pandemia do novo coronavírus, que contou com mais de 1.700 assinaturas. Quem participou do encontro com o presidente afirma que Bolsonaro merece as palmas.
“Eu acho que o governo tem muito motivo para ter aplauso. É que, muitas vezes, as pessoas não querem ver. Mas tem muito motivo”, disse Cinel ao jornal Folha de S.Paulo.
Participaram do jantar nomes como Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco, Rubens Ometto, da Cosan, André Esteves, do BTG Pactual, Alberto Saraiva, do Habib’s, João Camargo, do grupo Alpha e Claudio Lottenberg, que também preside a Conib (Confederação Israelita do Brasil). Veja a lista completa abaixo. Nem todos os convidados, porém, chegaram a participar do encontro.
Ao menos dois declinaram do convite para jantar com o presidente: Abilio Diniz, da Península Participações, e Frederico Trajano, do Magazine Luiza. Ambos alegaram que estão fazendo isolamento social por conta da pandemia do coronavírus e, por isso, não poderiam comparecer. Segundo uma das pessoas que ajudou na organização do jantar, Diniz chegou a dizer que não tem visitado nem os filhos.
Diniz tem adotado uma postura mais pró-governo e chegou a dizer, em março de 2020, que a pandemia não era tão grave assim, e que o Brasil se recuperaria rápido, em setembro do mesmo ano.
Já Trajano falou em março do ano passado que o Magazine Luiza havia sido o primeiro a fechar suas lojas por conta da pandemia e que estaria entre os últimos a abri-las. Neste mês, falou que só o que funciona contra a pandemia são isolamento social e vacina.
Johnny Saad, do grupo Bandeirantes, havia confirmado presença, mas avisou que não poderia comparecer por ter acordado com tosse no dia do jantar. Alguns empresários foram propositalmente excluídos. Luciano Hang, da Havan, por exemplo, entrou em uma pré-lista, mas acabou preterido para evitar a imagem de que o presidente se cerca de bolsonaristas considerados mais radicais, informou a coluna Mônica Bergamo.
A comitiva presidencial reuniu representantes de peso do primeiro escalão da gestão Bolsonaro: os ministros Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Marcelo Queiroga (Saúde), e Fábio Faria (Comunicações), além do general Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Outro empresário, que também pediu sigilo, disse que foi uma decepção saber que Campos Neto esteve neste tipo de encontro privado. Esse mesmo empresário disse que o chefe do BC é respeitado, mas que, ao participar deste tipo de reunião, fere a independência da instituição e coloca o Banco Central a serviço de “um faz de conta”.
O último encontro de Bolsonaro com grandes nomes do empresariado foi em dezembro do ano passado, em um jantar na casa de Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Em 2021, o presidente da Fiesp teve apenas reuniões individuais com o mandatário.
Skaf, que estave no encontro de quarta, anunciou para todos os convidados que prepara novo encontro com o presidente, para cerca de duas semanas, na tentativa de atrair empresários fora do núcleo bolsonarista.
O diagnóstico de que a imagem de negacionista no enfrentamento da pandemia estava fazendo com que Bolsonaro perdesse apoio do empresariado fez o presidente mudar de discurso e aceitar, ao menos parcialmente, a implementação do “Plano Vacina”, uma guinada de 180º em seu posicioinamento sobre a imunização. No jantar, Bolsonaro ainda atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem chamou de “vagabundo”.
Veja a lista de participantes:
Alberto Leite, da FS Holding
Alberto Saraiva, Habib’s
André Esteves, BTG Pactual
Carlos Sanchez, EMS
Candido Pinheiro, Hapvida
Claudio Lottenberg, da Conib
David Safra, banco Safra
Felipe Nascimento, da Mapfre Seguros
Flávio Rocha, da Riachuelo
João Apolinário, Polishop
João Camargo, grupo Alpha
José Isaac Peres, da Multiplan
José Roberto Maciel, do SBT
Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco
Rubens Menin, CNN
Rubens Ometto, Cosan
Tutinha, Jovem Pan
Washington Cinel, Gocil
Paulo Skaf, presidente da Fiesp
Fonte: Folhapress