A Agência de Desenvolvimento do Estado (Adece) deu um prazo de sete dias corridos para a Paquetá Calçados desocupar os dois galpões que ainda ocupa no município de Itapajé, no interior do Ceará. O prazo foi informado em notificação extrajudicial pela agência, que é proprietária das estruturas.
O pedido de retirada ocorre em meio a protestos pacíficos de funcionários e ex-funcionários da Paquetá, que têm se reunido em frente à empresa, para reivindicar o pagamento das suas rescisões e direitos trabalhistas, além da saída do grupo gaúcho de pelo menos dois dos quatro galpões que fazem parte da estrutura da fábrica. O objetivo é possibilitar que o grupo Dilly Sports assuma o local e contrate mão de obra da cidade.
A notificação da Adece foi enviada na quarta-feira (13), via Correios, e somente após a confirmação de recebimento será contado o prazo de sete dias.
Em cartazes, frases pediam respeito e pagamento dos valores devidos. “Sem direitos, sem trabalho e sem esperança de dias melhores. #Fora Paquetá#”, era um dos exemplos. Daniele Silva, com 20 anos de Paquetá, entre idas e vindas de carteira assinada, fez um grande apelo, afirmando que muitas famílias estão perdendo as suas casas por não ter como pagar os aluguéis e trabalhadores têm suas famílias “passando fome”.
“Esse é um pedido de socorro. Não queremos nada da empresa, apenas os nossos direitos, o que trabalhamos e que deve ser pago”.
Ainda entre as falas na manifestação, foi lembrado que muitos empresários e representantes da sociedade estão na mesma luta por uma solução para a área, que traga os empregos de volta, já que a diminuição de pessoas assalariadas no município diminui todo o movimento da economia local, principalmente no comércio.
Vereadores e a prefeita de Itapajé, Maria Gorete Caetano, participaram da ação nesta quinta-feira. Ela fez, novamente, um apelo para que a Paquetá entenda a situação do povo do município e entregue o espaço ocioso para que outras empresas possam se instalar.
“Queremos sensibilizar a chefia da Paquetá para que nos ajude, ajude esses pais de família que estão passando fome. É muito simples, dá para eles desocuparem dois galpões (que estão sem produção conforme os próprios colaboradores que continuam trabalhando no local), só depende da boa vontade e sensibilidade humana de quem trabalha na empresa. Tenho certeza que eles vão resolver”, ressaltou.
O QUE DIZ A ADECE
Diante dos impactos causados pela diminuição das operações da Paquetá Calçados no município de Itapajé, a Adece notificou, no dia 24 de janeiro, a empresa gaúcha para a desocupação, em 30 dias, de dois imóveis do Estado, cedidos em forma de comodato, na cidade. Na ocasião o grupo gaúcho solicitou a postergação da devolução por mais 60 dias, alegando tratativas com investidores para a reativação da marca própria e manutenção dos empregos no município.
No entanto, o pedido de prorrogação do prazo não foi aceito pela agência e, após algumas tratativas, foi emitida nesta quarta-feira (13), uma notificação extrajudicial para a desocupação dos galpões 2 e 3, com início imediato. A notificação estabelece que a empresa tem até sete dias corridos para concluir a desocupação.
Além da notificação enviada pelos Correios, a Adece também enviou e-mail para a empresa comunicando o pedido de desocupação urgente.
EMPRESA QUER RETOMAR MARCA CAPODARTE
Com exclusividade para o Diário do Nordeste, em fevereiro, o diretor financeiro da Paquetá, Eurico Tatsch Nunes, confirmou que a empresa foi notificada pelo Governo do Estado para a entrega dos pavilhões de Itapajé. “Porém, não temos a intenção de entregá-los em razão de nosso plano de retomada da Capodarte”.
Na mesma ocasião, a prefeita Maria Gorete se mostrou muito preocupada com a situação da sua cidade, tendo em vista que essa era a única fábrica local que abarcava centenas de empregos. “O que está impedindo a vinda da Dilly são os galpões, que são do governo e estão ocupados”.
Ela ainda reforça que a Dilly já teria entregue toda a documentação necessária para se instalar na cidade. “A nossa população é qualificada e por isso temos esperança que tudo se resolva rapidamente”.
A reportagem fez contato novamente com a direção da Paquetá, para obter mais informações sobre o processo de desocupação, mas não recebeu retorno até o fecham
EMPRESA DAVA SINAIS DE FECHAMENTO
Paquetá ficou em recuperação judicial de abril de 2019 até novembro de 2023. Com isso, era de conhecimento público o enfrentamento de uma severa crise financeira que teve seu agravamento no início do ano passado, o que culminou com o desabastecimento das fábricas e as sucessivas falhas nas entregas de produtos.
No reflexo para os colaboradores, a empresa, desde meados de março do ano passado, vinha atrasando salários. Em abril o pagamento ocorreu, pela primeira vez em 30 anos de existência no Ceará, de forma parcelada.
Em meados de junho o Governo do Estado adiantou R$ 23 milhões referentes a parcelas de incentivos fiscais. A intenção era manter os 3,1 mil postos de trabalho no Ceará. Porém, o acordo firmado entre o Grupo Paquetá e o Estado do Ceará, de em troca do adiantamento a empresa manter as unidades fabris do Estado abertas por 31 meses, com a manutenção de todos os empregos, foi descumprido.
Por conta disso, o Governo afirmou, ainda no fim de 2023, que estudava uma forma de reaver parte dos valores. Porém, o montante não foi divulgado na oportunidade.