Ao menos uma pessoa morreu e outras cinco pessoas ficaram feridas depois que parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como “igreja de ouro”, desabou na tarde desta quarta-feira (5), no Centro Histórico de Salvador. A informação foi confirmada pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA).
Imagens feitas por testemunhas mostram os estragos após o desabamento. O espaço onde os fiéis ficavam durante as missas foi coberto por destroços, como a madeira que cobria o telhado. Três equipes dos bombeiros atuam no local para identificar possíveis pessoas presas. Policiais militares isolaram a área.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) presta socorro aos sobreviventes no Centro Histórico. Ainda não há informações sobre as identidades das vítimas.
Considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja já enfrentava problemas estruturais há anos.
Com interior revestido em ouro, o templo fundado no início do século 18 foi tombado como patrimônio material do Brasil, porém, o reconhecimento do governo federal, que deveria garantir a proteção ao espaço, não impediu a construção de atingir uma situação degradante.
Durante uma visita realizada em 2023, o g1 observou que o local estava com pinturas e teto desgastados, pilastras sem reboco e piso desnivelado em vários pontos – o que dificultava a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida.
No mesmo ano, um dos pátios da Igreja de São Francisco foi parcialmente fechado porque já havia risco de queda do pináculo direito. A estrutura, uma cúpula de metal que pesa cerca de uma tonelada e meia, chegou a ser removido, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Durante esse processo, as visitas ao templo, que é um dos mais procurados por quem passeia pelo Centro Histórico da capital baiana, seguiram mantidas.
Em maio de 2023, o governo federal fez a restauração dos painéis lusitanos de todo o prédio, porém, as melhorias não se estenderam a outras partes do templo, que careciam de manutenção.
Para fazer a restauração da Igreja e Convento de São Francisco, era preciso primeiro que o projeto da obra fosse avaliado e aprovado pela comissão técnica do Iphan, que avalia o nível de preservação do bem e autoriza a construção.
Isso porque todo patrimônio tombado só pode ser reformado se as características que justificaram o tombamento, a exemplo da fachada e do conjunto arquitetônico, se mantiverem as mesmas. No caso da igreja franciscana, os desafios são grandes para assegurar as características tradicionais do barroco.
As estruturas da Igreja e Convento de São Francisco começaram a ser construídas em 1686. A obra só foi concluída com doação de moradores em 1723, mesmo tendo sido aberta ao público dez anos antes, em 1713.
Quem vê a igreja de fora, não imagina o luxo na parte interior. As superfícies internas – paredes, colunas, teto, capelas – são revestidas de intrincados entalhes cobertos de ouro, com florões, arcos, e inúmeras figuras de anjos e pássaros, símbolos do barroco brasileiro.
Ricamente decorado, o templo tem imagens de mestres santeiros baianos e lusitanos, verdadeiras obras-primas da arte sacra, duas pias de pedra doadas por Dom João V, quando era rei de Portugal, bem como balaustradas e outras peças esculpidas em jacarandá, um tipo de madeira nobre.
Nos púlpitos e tetos, há várias pinturas, muitas delas produzidas em 1737 pelo pintor português Bartolomeu Antunes, conhecido como o mais importante mestre ladrilhador do país colonizador.
Sobre o parapeito do coro, existe um antiquíssimo oratório com um crucifixo e dez pequenos nichos com relíquias, entre elas o crânio de um mártir a quem se atribuiu o nome de São Fidélis, doado pelo papa Inocêncio XII.
Além da suntuosa capela-mor, dedicada a São Francisco de Assis, o espaço possui oito capelas secundárias. O cadeiral entalhado do coro, a estante para o missal e as grades entre as capelas secundárias são obras do frei Luís de Jesus, conhecido como “Irmão Torneiro”. Estes elemento são do século 17 e foram reaproveitados da primeira igreja edificada no local, portanto, são os mais antigos da coleção.
A sacristia também possui um grande arcaz em madeira entalhada feito pelo “Irmão Torneiro”, com pinturas sobre pequenas placas de cobre encaixadas em nichos, mostrando cenas da vida de São Francisco. Sobre o móvel, junto ao teto, está outra série de pinturas de Bartolomeu Antunes, com a mesma temática.
Fonte: G1 Bahia