Familiares e vizinhos do adolescente Samuel Caio dos Santos de Oliveira, de 15 anos, fizeram um protesto no bairro do Stiep na noite desta quinta-feira (21), cerca de duas horas após ele ser morto em uma ação policial que aconteceu na comunidade da Baixa Fria, na Boca do Rio, onde morava. Os cerca de 30 manifestantes reclamam também que ele ainda foi impedido de ser socorrido pela mãe.
Uma familiar do garoto disse que ele estava na rua por volta das 17h, quando a Polícia Militar chegou à localidade. “Ele estava na porta do beco, como em qualquer esquina daqui, como o povo fica. Estava tendo operação e a polícia já chegou assim, metendo tiro. Eles não querem saber se é mãe de família, pai de família. Samuel tinha apenas 15 anos, era um menino, inocente”, disse a mulher, muito emocionada.
Ela acrescentou que o menino chegou a chamar pela mãe antes de morrer, mas foi impedido de receber socorro.
“Ele estava no chão chamando a mãe pela última vez e ninguém deixou ela se aproximar, nem para se despedir. A polícia impediu ela de ver o filho, xingou, disse que ia dar tapa na cara. Depois, jogaram ele na mala do carro, meteram arma na cara e sumiram com ele, não sabemos nem pra onde levaram o corpo”, disse uma familiar, muito abalada.
A busca pelo corpo do menino acabou no Hospital Geral Roberto Santos, para onde a vítima foi levada. Um outro vizinho diz estar em choque com o que aconteceu. “Eles [policiais] já chegaram atirando. Eles não querem saber se a pessoa é trabalhadora, nada. Chegaram várias viaturas e, na hora, ele estava subindo o Morro do Borel, se assustou, aí correu. Nisso, a polícia já chegou atirando. Quando a mãe tentou se aproximar, dar socorro, os policiais nem deixaram ela encostar, já levaram o corpo embora e a gente sequer sabe pra onde levaram”, reforça o morador que, por segurança, prefere manter anonimato.
A reportagem conseguiu conversar com Cíntia, mãe do garoto. Ela conta que foi xingada por policiais quando quis confirmar se era o filho que estava estirado no chão. “Saí de casa correndo e fui ver, mas a polícia me interrompeu e disse que eu não ia descer o beco para ver nada, não. O PM me xingou, me chamou de vagabunda e disse que eu não ia passar. Eu insisti, disse que precisava ver se era meu filho, e aí ele disse que eu ia descobrir depois, quando fosse reconhecer o corpo”, lembra ela.
Além da perda do filho, Cíntia ainda precisou rodar a cidade para descobrir para onde o garoto foi levado. “Largaram ele no beco, demorou um pouco e, depois, chegou outra viatura, tirou o lençol branco que estava em cima dele, e levou. Foi assim que eu soube que era meu filho que estava ali, morto. O povo que estava lá embaixo que viu e me avisou. Não falaram nem para onde levaram, eu rodei tudo atrás dele e só achei depois”, lamentou.
A mãe do garoto e o padrinho dele foram até o hospital e, lá, confirmaram que ele estava morto. “Quando cheguei no Roberto Santos, eu queria saber a situação dele, ficou um jogando para o outro. Fomos para a sala da Polícia Civil e, lá, a assistente social chamou um médico, que disse que não era mais com ele. Graças a Deus tenho um colega lá que me ajudou e o pessoal confirmou que ele chegou morto. Consegui entrar e reconheci o corpo dele”, lamentou o padrinho.
Samuel, segundo seus vizinhos e parentes, era um garoto muito querido no bairro. “Ele era muito querido por todos. Estamos muito sentidos. A vida não pode ser tirada dessa forma, só Deus pode tirar a vida. É um ser humano que vai embora. Estamos desesperados com essa situação, a polícia tem que entender que também tem gente de bem na favela, pessoas que precisam ser respeitadas”, disse um familiar.
Todos os moradores ouvidos pela reportagem afirmam que não houve troca de tiros e que Samuel foi atingido gratuitamente. Procurada, a Polícia Militar ainda não se manifestou.
Denúncias
Moradores aproveitaram a manifestação para criticar a postura da Polícia Militar que, segundo eles, é sempre truculenta.
“Moro aqui há 40 anos e isso é recorrente. Eles sempre chegam aqui assim, atirando, xingando mãe de família, criança, batendo nas pessoas. Eu já fui xingada de tudo que é nome, já vi criança sendo agredida, metendo a viatura nas pessoas. Eles levam os meninos para o beco e matam, o menino nem tinha arma, nada”, disse uma dona de casa.
Outros vizinhos do garoto também confirmaram que a postura da polícia na localidade costuma ser violenta.
Via fechada
Durante o protesto, que aconteceu na Rua Professor Manoel Ribeiro, no Stiep, familiares e vizinhos colocaram fogo em objetos na pista, como entulho, tábuas de madeira e garrafas, causando congestionamento. Equipes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e da Transalvador foram até o local para contornar a situação.
A via foi liberada por volta das 19h45, e o trânsito na região já flui sem problemas.
Fonte: Correio24Horas