Não dá para dizer que zerou o jogo, mas o segundo turno das eleições de 2022 será marcado pelo clichê: é uma nova eleição, especialmente no contexto da Bahia. A disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vai obrigar que o embate baiano reproduza os palanques que, até então, não estavam explícitos. Isso vai gerar um ACM Neto (União) abatido e instado a abrir conversas com Bolsonaro, enquanto Jerônimo Rodrigues (PT), além de ultrapassar o adversário, vai “nadar de braçada” na onda lulista.
No plano federal, o discurso de questionamento do resultado das urnas vai aparecer com força no circuito bolsonarista. Colocar em dúvida o processo eleitoral é a maneira com que o presidente vai sustentar o próprio discurso, para evitar admitir que ficar em segundo lugar para Lula no primeiro turno seja uma derrota. Como aconteceu em 2018, haverá ainda um discurso xenofóbico contra o Nordeste, região que equilibrou as forças na disputa presidencial, depois de Bolsonaro liderar a corrida durante boa parte da apuração.
Lula tem uma situação menos desconfortável, apesar de arriscada. O antipetismo mostrou força, principalmente nas disputas por governos estaduais e pelas vagas ao Senado. A eleição de figuras caras ao presidente é uma prova de que o petista não está em berço esplêndido e precisará incorporar pautas de adversários com Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), candidaturas progressistas e cuja volatilidade dos votos já foi visível na reta final do primeiro turno. Sob o risco de se ver ultrapassado por Bolsonaro – ou ver esses votos tragados pelo presidente.
Superado esse resumo inicial do plano nacional, é preciso avaliar o impacto dessa disputa para a Bahia. ACM Neto tentou manter neutralidade na corrida pelo Palácio do Planalto e terá que descer do muro. É claro que há um trunfo relevante para negociação entre ele e Lula. Caso o ex-prefeito de Salvador não faça adesão formal à candidatura de Bolsonaro, o ex-presidente poderia ampliar os quase 70% registrados neste domingo. Porém vai depender do comportamento de Lula por aqui. Caso ele entre com força na Bahia, para projetar Jerônimo ainda mais, ACM Neto será colocado no colo de Bolsonaro – um desejo reprimido, inclusive, de ex-aliados como João Roma (PL), que cumpriu seu papel de representar o presidente ao mesmo tempo em que forçou uma disputa em dois turnos na Bahia.
O candidato ao governo da Bahia pelo União Brasil chega a disputa do segundo turno combalido, depois de liderar a maioria das pesquisas de intenção de voto. O cruzamento entre as curvas dele e de Jerônimo por muito pouco não repetiu a história de 2006 e 2014, quando o petismo venceu o suposto favoritismo dos adversários. A proximidade de uma vitória do ex-secretário de Educação em primeiro turno minou a confiança que o grupo de ACM Neto trazia e caberá a ele realinhar os caminhos para reverter o quadro, agora desfavorável a ele.
Jerônimo conseguiu uma vitória importante, mas não na expectativa dos aliados. Nos últimos dias, o discurso de vencedor no primeiro turno era presente em todas as entrevistas, com direito a provocações ao principal adversário. Apostando que Lula vai estar ainda mais presente na disputa baiana, o petista tem motivos para mostrar autoconfiança, evitando o clima de já ganhou – algo que contaminou e atrapalhou a campanha de ACM Neto.
Roma vai espezinhar o ex-amigo antes de anunciar qualquer caminho no segundo turno. E só vai aderir novamente ao projeto de ACM Neto caso o ex-prefeito dê palanque a Bolsonaro. O número de votos dele empataria a disputa, mas o ônus pode ser mais alto que o bônus. Então, só o próprio ex-prefeito e o entorno dele para escolherem o caminho menos traumático na disputa. ACM Neto é antipetista, mas conseguiu pouco mais de 20% de votos em consonância com Lula, então o cálculo vai ser na ponta da unha.
O segundo turno das eleições no Brasil e na Bahia não possuem um favorito escancarado. Lula venceu Bolsonaro no plano federal e Jerônimo bateu ACM Neto na Bahia. São boas vantagens. Porém teremos mais 28 dias de uma campanha intensa para construir ou desconstruir as imagens dos candidatos. Os candidatos vão voltar às ruas e os eleitores terão que enfrentar as urnas mais uma vez.
Fonte: Bahia Notícias