O empresário do setor do agronegócio Adelar Eloi Lutz, que orientou funcionárias, no oeste da Bahia, a colocarem “o celular no sutiã” para filmar o voto na urna eletrônica e comprovar, posteriormente, que votaram conforme sua imposição, disse, nesta quarta-feira (19), que o áudio se tratava de uma “brincadeira”. O caso de suposto assédio eleitoral é apurado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
Por telefone, Adelar Eloi afirmou à reportagem que não iria se posicionar sobre o caso. No entanto, na tarde desta quarta, ele publicou um vídeo em uma rede social onde falava sobre o ocorrido.
“Mandei esse coisa [áudio] para várias pessoas, mas não sei como foi para em outros lugares. Jamais ia fazer isso [demitir alguém]”, afirmou.
Ainda no vídeo, o empresário disse que alguns de seus funcionários têm familiares que apoiam o candidato à presidência do partido oposto ao que ele vota.
“Eu tenho gente que está trabalhando aqui que a família toda é PT, eu botei para fora? Eu não, só disse que tem que analisar e tal, mas não por isso, não tem pressão nenhuma”, disse.
Nesta quarta-feira, o g1 teve acesso ao áudio atribuído ao empresário. Em um trecho, Adelar afirma: “Tinham cinco [funcionários que não concordavam], dois voltaram atrás. Das outras 10 que estavam ajudando na rua, todos tiveram que provar, filmaram na eleições. Se vira, entrem com o celular no sutiã, que seja, vai filmar, se não, rua”.
O suspeito ainda revelou que duas mulheres, que não aceitaram a imposição, o procuraram para dizer que vão filmar os votos no segundo turno.
“Filmaram e provaram que votaram. Duas não queriam e estão para fora, hoje já estão falando ‘eu vou votar no Bolsonaro agora’. Então vota, primeiro prova que nós contratamos de novo”, afirmou.
Ameaças em mercados
No áudio, o empresário também admitiu que mandou ameaçar donos de mercados da cidade de Formosa do Rio Preto, que fica no oeste do estado.
“Nós temos que fazer isso logo, a gente ameaça nos mercados de Formosa. Mesmo a gente não comprando muito neles, os funcionários da gente todos compram no mercado”, disse.
O homem conta ainda que mandou colocar as ameaças em dez grupos de aplicativos de mensagens como moradores da cidade. “O senhor estava certo, ‘bota para fora logo’. Eu também, lá em casa, os que estavam lá em casa eu tirei já”.
O que diz o MPT
O MPT informou que a circulação de áudios em redes sociais nos quais ele confessa uma série de atos ilegais envolvendo a coerção de trabalhadores a votar em determinado candidato à Presidência foi identificada pelo órgão.
Afirmou também que expediu recomendação para que o empresário imediatamente se abstenha de manter ou reiterar as práticas ilegais.
A procuradora Carolina Ribeiro, que atua no caso, também encaminhou ofício ao Ministério Público eleitoral com o relato dos fatos para que possa também adotar as medidas cabíveis.
Apesar de ter que ser concedido o prazo, o MPT informou que já prepara modelo de termo de ajuste de conduta a ser apresentado ao autor das declarações ilegais para que seja negociado logo na primeira audiência.
Casos no oeste baiano
Este é o segundo caso materializado por meio de provas que o MPT investiga nas eleições de 2022 no oeste baiano. A região é conhecida pela forte atividade de produção de commodities agrícolas e concentra propriedades rurais com intensa produção de grãos.
Outros seis casos também estão sob análise do órgão, que contabiliza somente na Bahia nove denúncias de assédio eleitoral.
De acordo com o MPT, no país esse número atingiu a marca de 419 casos, em um volume muito maior do que na última eleição presidencial, que ficou em 212.
Fonte: G1 Bahia