Mais uma mãe vive o drama de denunciar um caso de estupro e o caso segue sem resolução. Desta vez, uma mulher que preferiu não se identificar por medo de retaliações revelou que sua filha, 19 anos, foi violentada por um então funcionário público, no bairro de Coutos, na região periférica de Salvador. Pelo menos dois casos de violência já foram registrados no local. Ontem, as duas mulheres deixaram o bairro onde moravam e fugiram após ameaças.
A primeira aproximação do homem, 47 anos, começou no mês de junho de 2022, quando a vítima tinha 17 anos e ajudava a mãe que tinha uma barraca do lado de fora da instituição. Segundo a mulher, um dos funcionários do espaço alegou que o local onde ela trabalhava seria dele e passou a importunar e ameaçar tirá-las dali. Segundo a mulher, após o primeiro contato com a família, o homem passou a demonstrar ‘certo interesse’ pela adolescente.
“Ao conhecer a minha filha, eu percebi o interesse dele pela minha filha, 17 anos, ela é jovem, muito bonita, estudiosa, pacata, não gosta de dinheiro de farra, não gosta de bebida. Então, eu percebi esse grande interesse e ele começou a ter ciúmes dos homens que se aproximaram dela na barraca”, disse.
Aos poucos, de acordo com a mãe, ele foi ganhando a aproximação da adolescente que passou a tirar vantagens da relação das duas que, na época, estavam meio estremecidas devido a problemas financeiros. “Ele começou a ganhar a confiança da minha filha, começou a colocar a minha filha contra mim por conta dos problemas que eu estava tendo no momento e quando ele percebeu que eu estava sendo contra a aproximação dele, ele fingiu ter os mesmos tipos de problemas que a minha filha tinha, fingiu aconselhar ela como se fosse um irmão mais velho ou até mesmo um pai”, contou.
Os primeiros sinais de que a situação já estava fora de controle aconteceu quando a mãe da jovem chegou no local e encontrou a filha trancada dentro de um sala com os então funcionários, enquanto outros colegas do homem seguiam do lado de fora segurando a porta. “Eu cheguei e ficaram desconcertados. Perguntei o que estava acontecendo, eles falaram que era brincadeira. Esse senhor estava agarrando a minha filha, forçando beijos, dentro desse quartinho e depois minha filha me relatou que ficou muito constrangida.
Na época, antes do episódio da sala, a mulher procurou a antiga coordenadora do local e relatou o que estava acontecendo, mas foi informada que nada podia fazer e que era escolha da adolescente. Após o flagrante, ela retornou a coordenação, que já estava sob outra administração, e expôs o ocorrido. A nova gestora aconselhou a mulher a procurar a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra Criança e Adolescente (Dercca) e registrar um boletim de ocorrência por pensar que o crime estava sendo cometido fora do ambiente escolar.
A situação foi só ladeira abaixo. De acordo com a denunciante, em 2023, ela e a filha, que já tinha 18, ingressaram na instituição como alunas. “Um dia ele foi até a minha casa, bateu na porta, minha filha abriu, ela me relatou que ele entrou, vasculhou a casa toda para ver se tinha alguém e foi beijando ela. E quando ele começou o ato sexual, segundo ela, ele abaixou a calça e começou o ato sexual. Ela disse que o empurrou e pediu que ele parasse, mas ele não parou”. “Ele cometeu esse ato contra minha filha que era virgem, nunca tinha tido um namorado, nem beijado nenhum garoto”, lamentou.
Segundo a mulher, ela tomou conhecimento dessa situação quando foi convidada para comparecer na Deam. Na delegacia, ela encontrou a filha prestando depoimento. “Eu acredito na minha filha. Ela é uma menina que o comportamento não condiz com isso, então se ela fala que houve o estupro, eu acredito!”, completou a mulher. Após o crime, o homem passou a ameaçar a família de morte, inclusive enviando um suspeito (aparentemente envolvido com o tráfico local) armado para intimidar a mulher enquanto trabalhava na porta da instituição.
A Polícia Civil informou, por meio de nota, que um inquérito policial foi instaurado na Dercca para investigar uma ocorrência de estupro de vulnerável, importunação sexual e violência psicológica contra a mulher e que as oitivas estão sendo realizadas e o depoimento especial está agendado para esclarecimento do ocorrido.
A Secretaria Municipal de Educação também foi procurada, uma vez que a mulher também registrou queixa no órgão, e respondeu que a denúncia foi registrada na ouvidoria da instituição em 5 de julho deste ano e que o funcionário foi desligado da empresa prestadora de serviço à Smed. “O suposto ocorrido aconteceu fora do ambiente escolar, há dois anos, quando a suposta vítima mantinha um relacionamento com o acusado e todos são maiores de idade”, disse a Smed.
“Isso é o que ele sempre fez na comunidade, ele inventou essa história de relacionamento para denegrir a imagem da vítima e deixar ela e também a mim em situação de risco ao qual chegou”, retrucou a mulher sobre a resposta da Smed. A mulher chegou a procurar também o Ministério Público da Bahia (MP-BA) e registrou a ocorrência, mas nada foi feito. A reportagem entrou em contato também com o órgão, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
“O CRES nos ajudou com uma passagem para sair do local, mas as nossas coisas ficaram lá. Nós trabalhávamos com vendas e esse era nosso único sustento. Então, eu peço ajuda até mesmo com a alimentação porque nós duas já estamos passando por privação”, finalizou a mulher, que está também sendo apoiada pela ONG Mulher por Mulher. Interessados em ajudar podem entrar em contato com a coordenadora Marizete por meio do número (71) 99153-8747.
A TARDE