A Polícia Civil realizou uma escuta telefônica há dois anos no aparelho de uma irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020. Durante uma conversa com uma tia, ela acusou o Palácio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do miliciano. As informações são da Folha de S.Paulo.
Os áudios interceptados foram obtidos com exclusividade pelo portal.
“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso. Foi um complô mesmo”, disse a irmã, identificada apenas como Daniela, em um trecho da conversa.
“Ele falou para mim que não ia se entregar porque iam matar ele lá dentro. Iam matar ele lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida”, completou.
Minutos depois, a tia ligou para outra irmã de Adriano, Tatiana, e relatou a suspeita de Daniela.
Tatiana, por outro lado, elogiou a atitude do presidente Jair Bolsonaro em pedir uma perícia independente para analisar o caso.
“Ele foi nos jornais e colocou a cara. Ele falou: ‘Eu estou tomando as devidas providências para que seja feita uma nova perícia no corpo do Adriano’. Porque ele só se dirige a ele como Adriano, capitão Adriano.”
Para ela, o mandante do assassinato teria sido o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. “Foi esse safado do Witzel, que disse que se pegasse era para matar. Foi ele.”
Em um outro trecho da conversa, Tatiana negou a acusação de que o irmão era miliciano.
“Pessoal cisma que ele era miliciano. Ele não era miliciano não. Era bicheiro. […] Querem pintar o cara numa coisa que ele não era por causa de coisa política. Porque querem ligar ele ao (presidente) Bolsonaro. Querem ligar ele a todo custo ao Bolsonaro.”
“Aí querem botar ele como uma pessoa muito ruim para poderem ligar ao Bolsonaro. Aí já disseram que foi o Bolsonaro quem assassinou. Quando a gente queria cremar diziam que a família queria cremar rápido porque não era o Adriano. Uma confusão”, completou.
A Folha procurou o Palácio do Planalto e o advogado de Daniela para comentar o assunto, mas ambos não quiseram se pronunciar.
Relembre o caso
O ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como “capitão Adriano“, foi morto em uma troca de tiros com a polícia, no dia 9 de fevereiro de 2020, em Esplanada, no interior da Bahia.
Ele estava foragido desde janeiro de 2019 por ser apontado como chefe do “Escritório do Crime”, milícia suspeita pela morte da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, assassinados em março de 2018.
Ligação com o esquema das “rachadinhas”
O Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou à Justiça conversas de WhatsApp entre Adriano e sua ex-esposa, Danielle da Nóbrega, que era funcionária do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Nas conversas, Adriano afirmava que se beneficiava do suposto esquema de “rachadinhas”, em que parte do salário dos servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) era recolhido.
Danielle e a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, foram exoneradas por Flávio quando o filho do presidente Jair Bolsonaro e Fabrício Queiroz ficaram sabendo da investigação.