As vendas de carros usados dispararam na Bahia: houve um aumento de 238,9%, segundo levantamento da Associação dos Revendedores de Veículos Seminovos da Bahia (Assoveba). O dado é o mais recente da associação e compara abril de 2021 com o mesmo mês do ano passado. Este ano, foram 22.852 veículos vendidos, contra 6.743 em abril de 2020.

Na comparação do mês passado com março de 2021, quando 22.007 seminovos foram vendidos, o volume de vendas segue em alta, de 3,8%. A maior parte dos carros vendidos em abril deste ano foram os mais velhos, acima de 13 anos de uso. Esses foram quase um terço das vendas – 7.738 unidades. Um aumento de 363,9% em relação a abril de 2020, quando 1.668 foram comercializados. Os modelos mais cobiçados são o Gol, Palio, Uno e Celta (veja lista no final da matéria).


O presidente da Assoveba, Ari Pinheiro Júnior, pontua que abril do ano passado teve um agravante: as lojas estavam fechadas por conta das medidas restritivas. “O Detran ficou fechado bastante tempo, aí quando abriu, em abril, foi todo mundo de vez transferir os carros. Por isso deu esse boom nos números”, analisa.

Contudo, a procura por seminovos se manteve intensa em todos os meses pandêmicos. De acordo com os vendedores ouvidos pelo CORREIO, a procura por esses veículos aumentou em até 30% em Salvador e Região Metropolitana.

“Toda vez que há crise, sempre procuram mais por um seminovo, porque carro zero fica fora do preço, aumenta muito, as pessoas ficam sem condições de comprar, porque diminui o capital da pessoa. De julho para cá, eles aumentaram cerca de 10% no valor”, afirma Júnior.

Em 2020 e 2021, existiu outro complicador: a pandemia, que fez as indústrias reduziram as produções de carro zero. Com baixa oferta, o preço dos usados subiu. “Teve uma mudança maior, dessa vez, que é a subida de preço carro zero e falta de produtos. Faltou muito carro zero, devido ao preço do aço e tecnologia. Isso onerou bastante a produção da fábrica, que está com trabalho reduzido. Há falta de peças e está demorando muito na produção. Por isso, vem crescendo a procura por seminovo e o produto aumenta o preço”, esclarece Ari.

A valorização dos seminovos vem sendo acompanhada pela tabela Fipe, que tem crescido de 2 a 7% por mês. Os mais valorizados são os modelos mais populares. O Onix, de R$ 40 mil em 2020, passou a custar R$ 47 mil. Já o Etios e o Ford Ka, que saíram de linha, aumentaram em torno de R$ 4 mil no último ano.

Estoque em baixa
Com a procura em alta, está cada vez mais difícil de achar veículos usados – assim como os carros novos. Segundo o presidente da Assoveba, a queda nos estoques de seminovos é de 40%. “O estoque de todo mundo está defasado. As pessoas estão tentando comprar e não conseguem. A gente não consegue repor na mesma velocidade e, toda vez que vai comprar, não acha pelo menos valor”, alerta Ari Pinheiro.

A advogada Amanda Quaresma, por exemplo, procurou por uma semana o carro usado que queria comprar, mas não o encontrou. “Vi um sandero modelo vibe na loja de usados e me apaixonei. Quando fui no outro dia, já tinha vendido e fiquei uma semana inteira procurando esse caro, falando com todas as pessoas que estavam anunciando”, relata.

Ele acabou comprando um Peugeot 208, por R$ 37 mil, há uma semana. O Sandero antigo, de ano 2013, que ela herdou do irmão, foi passado adiante. Amanda o negociou por R$ 18 mil. “Acabei pegando o 208 porque estava no preço que eu poderia pagar, dei de entrada o valor que recebi do carro e financiei o resto. Era completo, do jeito que queria”, completa a advogada.

Amanda não encontrou o modelo que queria, mas está satisfeita com nova aquisição. Crédito: Acervo Pessoal.
Mário Silveira, que é vendedor de carros usados há 27 anos, afirma que o estoque dele reduziu pela metade. Antes da pandemia, ele comprava 18 a 20 carros por mês para revenda. Agora, só encontra disponível no mercado 8 a 10.

Os preços subiram em torno de 40%. No geral, a procura em sua loja, na Bonocô, aumentou 30%. “Aumentou consideravelmente. As vendas se mantiveram no mesmo patamar, mas, com esse novo fechamento [em fevereiro e março], deu uma caída”, afirma Silveira.

Modelos em falta
Na Opção Veículos, também na Bonocô, o estoque médio dos últimos meses é de 50 carros. Hoje, eles estão com 63 no pátio – o normal eram 100, antes da pandemia. “O carro usado tá se tornando um item bem raro, difícil de comprar. Além disso, aumentou o preço para o consumidor e para quem vende. O prisma tem um bom tempo que não está aparecendo. Eu estava com um cliente para atender, mas não consegui, porque não achei no mercado”, informa o dono da Opção Veículos, Marcus Wilson.

O Gol, que também sempre tinha em estoque, ele não consegue comprar desde janeiro. O mesmo acontece com o sandero. A média de venda se manteve, entre 50 e 70 carros por mês. A procura foi que aumentou, em torno de 30%. Consequentemente, os valores subiram 20%, principalmente nas marcas populares, mais procuradas.

Na Danautos, na Bonocô, a maior dificuldade tem sido encontrar os carros modelo caminhonetes. “Ficou mais difícil encontrar picapes, esses carros sumiram um pouco, porque é normalmente o carro que o pessoal usa para trabalhar. Então tem muita gente comprando”, expõe Daniel Júnior, proprietário da Danautos.

Antes da pandemia, ele tinha para vender em média 10 a 12 unidades. Hoje, só encontra quatro noa loja. Desde junho do ano passado que a procura vem aumentando pelos usados. “De janeiro de 2020 para cá, houve um aumento de cerca de 40%. A gente imagina que seja por conta das pessoas quererem realizar suas vontades e a poupança não seja tão atrativa, então as pessoas estão investindo em carros”, supõe Daniel. Os preços cresceram em torno de 30%.

Mais clientes
Na Costa Azul Veículos, na Pituba, o aumento dos clientes por carros usados foi de 10%, comparado com o início da pandemia. “As pessoas ficaram mais dispostas a pagar pelos seminovos. Alguns reclamam um pouco, mas, sempre compram. Está sendo um período bom pra quem vende seminovo”, conta Paulo Henrique Costa, consultor de vendas da Costa Azul Veículos.

O crescimento de clientes interessados subiu 20% no último ano, assim como as vendas. A empresa também passou por dificuldade de repor o estoque, principalmente em janeiro e fevereiro deste ano, quando as vendas foram mais fortes.

Na Movida, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), essa procura aumentou até 30%. Porém, com o aumento dos preços, os interessados tem sido resistentes. “Com a pandemia, teve uma alta nos preços dos carros, então ainda tem muita resistência aos preços dos carros que aumentaram”, diz o vendedor da Movida, Igor Santos.

Na Baviera, que tem unidades no Iguatemi e em Brotas, o aumento da procura pelos seminovos foi de 20%, segundo uma das vendedoras. Também houve aumento no valor dos carros e eles não enfrentam problemas em repor o estoque – ainda não houve falta.

Seminovo pelo dobro do preço
O advogado Maurício Correia tenta vender o carro da namorada, Beatriz. É quase uma relíquia: um fusca do ano de 1973, que eles compraram por R$ 9 mil em 2019. Hoje, tentam vender por R$ 18 mil, o dobro do preço, na OLX. “A gente fez uma reforma boa nele, todas as peças são originais, só não os pneus, que foram adaptados, mas a tintura está zerada e a parte interna ajeitada”, esclarece Correia.

Fusca foi comprado por R$ 9 mil, reformado, e donos pedem R$ 18 mil. Crédito: Acervo Pessoal.
Ele pretende trocar o fusca por um pajero, de R$ 29.900, também do século passado – ano 1993 – para fazer viagens pelo interior da Bahia, a trabalho. Ele prefere por conta do preço, que é mais barato que um carro zero, e por não ter custos adicionais com o Imposto sobre a propriedade de veículos automotores (Ipva).

“Os custos com o carro novo são muito altos, tudo é mais caro, apesar da manutenção que você não tem que dar por um grande período, as revisões são muito caras, os seguros também. E um dos critérios para a compra de carros antigos é a isenção do Ipva, que a gente pode investir na própria manutenção do carro”, justifica Maurício.

Não caia em fraude
Carros usados e seminovos podem ser mais baratos, porém, é preciso prestar atenção para não cair em armadilhas e a conta ficar mais cara depois com despesas de manutenção, por exemplo. O mecânico e consultor automotivo Diego Bernardes, 34, dono da SBT Consultoria, dá algumas dicas. Ele orienta que os cuidados devem começar logo ao olhar anúncios.

“Hoje existem uma série de fraudes na OLX, com falsas propostas de carro, de pessoas que prometem vender ou comprar com o financiamento ou consórcio, então desde aí é preciso ter cuidados primordiais para não cair em fraudes e até ser assaltada. Essas questões de segurança são muito importantes para não comprometer até a integridade física da pessoa”, aconselha Bernardes.

Em relação aos preços, o consultor indica sempre comparar com a tabela FIPE, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. “A tabela Fipe é um balizador, a depender do carro, o preço pode estar um pouco acima, um pouco abaixo, ou no mesmo valor. Se você olha três veículos iguais e todos estão a R$ 40 mil, e você olha um quarto veículo, que está custando R$ 33 mil, desconfie, porque a diferença é muito grande”, alerta.

Na hora de fechar o negócio, alguns detalhes devem ser observados no carro, como a borracha protetora das portas. “Para saber se o carro foi adulterado, uma das primeiras coisas é verificar a borracha que tem no formato da porta, que ajuda a vedar e a não ter atrito de ferro com ferro. Também tem duas bolinhas, nas chapas metálicas, que são originais de fábrica. Se você detectar alguma oxidação, se elas tiverem amassadas, empenadas, ou se você não encontrar essas bolhinhas, nem continue com a compra, porque significa que houve corte no carro, passaram a massa e repintaram”, explica.

Ele também recomenda que o comprador verifique se o vidro da frente foi trocado. “A gente consegue ver o modelo do carro pelo vidro. O chassi tem 17 números e, nos vidros, tem a marcação do VIS [Seção Indicadora do Veículo]. Não chega a ter a numeração completa, mas dá para saber o modelo do carro e você consegue confrontar com os documentos do veículo, ver se houve adulteração e se os vidros foram trocados”, adiciona.

Sobre a mecânica do carro, Bernardes aconselha que os motoristas fiquem atentos à quilometragem total do carro, pois alguns podem vir com ela adulterada. “Muitas pessoas alteram a quilometragem, usando um scanner para dar reset nas informações. A olho nu, é difícil de identificar, mas, você deve observar se o desgaste dos bancos, volante, pedais e da marcha estão condizentes com a quilometragem. Um veículo com um desgaste no volante teria que ter roda, no mínimo, 70 a 80 mil km. Se você encontra um com 25 mil km rodado com desgaste nesses materiais, alguma coisa está errada”, orienta.

Na hora de comprar o seminovo, a quilometragem não é tudo que deve ser analisado. “Existem dois tipos de manutenção, a preventiva e a corretiva. A preventiva tem que acontecer para que você não caia na corretiva. Então você deve pedir o manual do carro, para ver a data das revisões, se escutar barulhos ou ruídos além do motor, pode ser rolamento; se assovia, pode ser problema na correia do alternador, tem uma série de coisas”, enumera Bernardes.

A última dica que ele dá para os comprados é observar se, ao ligar o carro, a luz de injeção está acesa. “Se a luz tiver acesa, é pepino, porque indica problemas sérios de manutenção corretiva, como no catalisador, e não são peças fáceis de reposição, são peças caras”, pontua.

Espera para carro novo é de 4 meses
O aumento do interesse pelos carros usados tem a ver com a demora na fabricação dos carros novos. São raras as concessionárias hoje que têm para pronta-entrega o modelo desejado pelo cliente. Essa espera pode levar até quatro meses.

“Todas as montadoras de um modo geral estão sem carros. O problema pegou todo mundo de surpresa com falta de insumos. Algumas empresas dependem totalmente de peças do Japão e China. Os navios chegam e ficam retidos”, explica Ismael Oliveira, diretor comercial do Grupo Honda Imperial.

Além dessa questão logística, o preço de alguns materiais subiu durante a pandemia, como o aço. O resultado disso é a interrupção da produção por parte das montadoras, algo que vem acontecendo no mundo doto, inclusive no Brasil.

“A fábrica da Honda parou por duas vezes, em fevereiro e março, por conta da pandemia. A Volkswagen e Nissan também pararam duas vezes. Então, tá todo mundo com falta de carro”, conta Ismael. Ele tem na sua empresa um estoque de apenas 47 carros, sendo que 29 estão comercializados. “Para um grupo que vende cerca de 270 carros por mês, é pouco ter esse estoque”, diz.

Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), mostram que o ano de 2020 teve o pior desempenho na produção de automóveis desde 2003. Foram apenas 2,014 milhões de veículos montados em 2020, uma redução de 32% frente ao ano de 2019, quando 2,944 milhões de carros foram produzidos no país.

Carros mais vendidos em abril de 2021 (fonte: Assoveba)
GOL – 2.279 vendidos
PALIO – 1.693 vendidos
UNO – 1.450 vendidos
CELTA – 1.161 vendidos
SIENA – 885 vendidos
ONIX – 829 vendidos
HB20 – 825 vendidos
KA – 787 vendidos
COROLLA – 777 vendidos
FIESTA – 737 vendidos

Fonte: Correio24Horas

Siga-nos no Instagram e acompanhe as notícias no Google News – Participe do nosso grupo no WhatsApp