A fábrica de calçados de nossa terra fez uma notinha se despedindo de Ipirá, ao tempo que pediu desculpas aos colaboradores.

Jogou a toalha. Apenas definiu uma situação que era evidente, sem meia-volta e sem retorno. Pediu ‘pê pê u’ e se despediu de nossa hospitalidade. Não tem choro nem vela, fechou as portas; já foi e já era. A massa estava falida.


Acabou a enrolação. O que é que tem que ser definido rápido e imediatamente? O pagamento dos direitos da classe operária na íntegra. Nada de calote; nada de ganhar tempo; nada de ganhar no grito e na base da enrolação.

Tudo isso aconteceu devido aos desvios escandalosos de recursos financeiros por parte de seus proprietários transformando a fábrica numa massa falida. A classe operária não tem culpa no cartório e não pode pagar o pato.

O governo, nos três níveis, não pode dar dinheiro público para cobrir o rombo. O sistema é capitalista; a economia é de mercado e a ideologia é o liberalismo, quem fracassou no seu empreendimento privado, que arque com as consequências, que pague o pato, que lasque a boca e pague o que deve.

A classe trabalhadora é que não pode ficar vendo navios, enquanto a burguesia proprietária passeia em iates. Aí seria colaborar mais do que é possível, além de se enterrar na penúria, por causa da incompetência de uma administração desorientada que desviou os recursos da fábrica para atividades e desperdícios outros. Cuidado classe operária, muito cuidado!

Depois de vinte anos em nossa cidade, ultimamente, a fábrica caiu numa situação de crise econômica aguda e profunda. Está se desfazendo de ativos, bens patrimoniais e setores lucrativos para sair do buraco da dívida. A fim de regularizar a situação financeira e tranquilizar os colaboradores chegou a vender lojas de varejo para um grupo de São Paulo. Tudo isso, para angariar recursos para o pagamento de dívidas e reestruturar a parte industrial.

A fila de espera dos credores é grande; bem maior é a fila de operários com a corda no pescoço, barriga vazia e um monte de compromissos a cumprir. Essa é a questão social que está na mesa, baseadas em direitos e leis trabalhistas.

A fábrica sinalizou que não tem mais interesse em Ipirá. Ponto final e fim da linha.

O que sobrou? Uma proposta do governo afirmando que quatro empresas estão interessadas em assumir a planta da fábrica de calçados em Ipirá, que comporta uma empresa com até 5 mil trabalhadores e ainda tem espaço para expansão. O caminho está aberto para a nova empresa.

A saída dessa fábrica representa uma perda monumental para Ipirá neste momento. São mais de mil empregos diretos e quase dois mil indiretos. Um desemprego que atinge o coração da sociedade ipiraense. Uma saída sentida na profundeza do incipiente setor industrial de Ipirá. Um tiro no coração da economia local.

Na minha maneira de observar as coisas, esta despedida da fábrica equipara-se à saída da empresa Nestlé do município de Ipirá, décadas atrás, que baqueou a produção de uma das maiores bacias leiteiras da Bahia.

Na sociedade, ninguém se manifestou. Poucos se importaram. A grande maioria nem entendeu aquela tragédia. A bacia leiteira de Ipirá declinou, caiu e nunca mais voltou a ser o que foi um dia. As substitutas não chegaram nem ao chulé da Nestlé. Hoje, a pecuária de Ipirá não tem a pujança que foi lá atrás.

A empresa que está indo embora para não voltar, que todos se lembrem, é uma das maiores do empresas do couro e calçado do Brasil. Para não ser uma perda irreparável para Ipirá tem que vir uma empresa do quilate da que se vai.

Se vier uma empresa (não sabemos se vem!) que empregue 200 operários, o que será dos outros mais de 800 operários? Se essa empresa levar um ano para gerar mais de mil empregos, significa que tivemos um ano de prejuízo. Como evitar perdas consideráveis no tempo e na mão-de-obra? Se não ocorrer uma substituição à altura e em tempo curtíssimo Ipirá sofrerá a maior derrota econômica de sua vida.

Como os senhores do jacu e do macaco estão observando essa situação? Quais são as alternativas apresentadas pela jacuzada e macacada para essa situação?

Essa situação é preocupante. Somada a essa situação de estiagem prolongada que assola o interior do município colocando Ipirá numa situação de calamidade pública, onde um copo de água representa muito, parece até um diamante líquido, que aglomerado num carro-pipa leva 30 dias após o pedido para chegar em algumas regiões, no entanto o prefeito manda lavar o passeio de uma escola municipal. Simplesmente inacreditável. A indiferença das autoridades aguça a calamidade.

Escrito por Agildo Barreto

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