ECONOMIA

Pirâmides de Bitcoin: perda pode acabar com economias. Saiba evitar

Um ganho dez vezes maior que o da poupança. Foi o que seduziu o professor Carlos (nome fictício), de Santa Catarina, e o fez seguir o conselho de um amigo, que em todo happy hour contava vantagens sobre como estava ganhando dinheiro em um site de investimentos.

Acostumado a investir em caderneta de poupança e fundos de previdência, o professor se convenceu diante da insistência do amigo, que mostrava os comprovantes de saques semanais com os lucros muito superiores aos das suas aplicações tradicionais.

Carlos resolveu aplicar então R$ 10 mil na Alcateia Investimentos, um site que prometia ganhos em mercados de derivativos e criptomoedas com um sistema infalível, que não perdia nunca.

Isso foi em setembro de 2017. “Fiz dois saques de R$ 250 e R$ 320 e já tinha a certeza que o negócio funcionava e era sério”, lembra. A intenção era, em março de 2018, investir mais R$ 100 mil.

O início do pesadelo

Em janeiro de 2018, o contrato de três meses na Alcateia terminou e Carlos foi então sacar o valor investido. Foi quando começou o calvário, ou o show de horrores, como ele descreve.

A plataforma só dizia “limite de saque diário excedido, tente novamente no próximo dia útil”. E Carlos tentou, escreveu e-mails, não respondidos, fez ligações para o gerente de conta, ou “líder da matilha”, que pouco depois parou de atende-lo.

Até que o telefone do líder deixou de tocar. “Publiquei um texto no site Reclame Aqui”, lembra. “Uma resposta medonhamente escrita, com vários erros de português, informava que eu deveria entrar em contato com a empresa, que não respondia questionamentos pelo site”, diz.

O professor notou então que era uma resposta padrão, exatamente a mesma dada a todos que reclamavam.

Foi aí que os podres da Alcateia começaram a surgir, como o fato de a empresa estar em nome de um vendedor ambulante, possuir inquéritos em várias partes do Brasil e ter o presidente da empresa com o nome sujo na polícia. “Some-se a isso a jogada de gênio deles: simularem a compra da carteira de clientes da Alcateia por outra empresa, a Máximus, que alegou não ter recebido os recursos dos clientes, e tudo se transformou num imbróglio”, conta Carlos.

A Máximus quebrou e saiu como lesada, vítima inocente de uma Alcateia bandida, que por sua vez alegava que passou o negócio adiante e não tinha mais nada com as dívidas.

Carlos entrou na Justiça para tentar reaver o dinheiro aplicado. Por sorte, não recomendou a Alcateia para ninguém, como incentivava a empresa, oferecendo comissões por indicações.

Mas, depois disso, promete que jamais colocará dinheiro nas mãos de aventureiros que prometem riqueza em curto prazo. “Que minha história seja exemplo a muitos, que sonham em ficar ricos sem esforço e por meios estranhos”, resume.

A nova onda das pirâmides

Carlos é apenas mais um dos milhares de brasileiros que foram vítimas de golpes financeiros, as chamadas pirâmides, esquemas que prometem ganhos elevados em um curto espaço de tempo, usando como argumentos aplicações em moedas digitais ou em mercados de moedas no exterior, o chamado Forex.

Além do ganho muito acima da realidade, essas empresas oferecem comissões para quem indicar novos participantes, uma forma de realimentar a pirâmide, que vai pagando os resgates de quem sai com as aplicações de quem entra.

Na realidade, não há investimento nenhum, apenas a troca de recursos entre os que entram e os que saem. Os que investem acreditam que estão ganhando ao acompanhar seus saldos crescendo pela internet, na maioria das vezes meras ilusões digitais.

CVM vê aumento das denúncias

O crescimento dos golpes pela internet provocou um aumento na quantidade de ordens de proibição de ofertas (stop orders) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) neste ano.

Somente de janeiro a junho, foram 15 proibições, contra 11 do ano passado inteiro, muito em função de esquemas de Forex e pirâmides financeiras, diz Guilherme Aguiar, superintendente de processos sancionadores.

Segundo ele, trata-se de uma situação que não é da competência da CVM, pois é estelionato, e não mercado de capitais. “Mas ficamos de olho mesmo assim, porque tem crescido muito a ocorrência de pirâmides, pela baixa dos juros e inflação e pelas pessoas estarem buscando outros tipos de investimento com maior rentabilidade”, explica.

Fonte: Exame

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