Quem conhece Matteus, de apenas 27 anos, não faz ideia de sua história de vida. Natural de Alegrete, no Rio Grande do Sul, ele foi abandonado pelo pai quando sua mãe ainda estava grávida. Aos 5 anos de idade, com o novo casamento da matriarca, veio a admiração pelo padrasto – que passou a ser sua figura paterna de referência.
Ainda na infância, o alegretense sentiu o peso do bullying na escola: seu sotaque carregado e seu jeito tradicional de se vestir viraram assunto entre os colegas de classe. Dentro dos campos, quando praticava futebol, a bombacha e a bota eram partes imprescindíveis do uniforme. O estudante de Engenharia Agrícola chegou a participar, até mesmo, do Mister Brasil.
Sua mãe o inscreveu para que perdesse um pouco da timidez, mas ele conta que nunca conseguiu alcançar as maiores posições da competição, uma vez que seu coração está no cuidado com as plantações e animais. “Sou simples. Cato bosta e domo cavalos”, orgulha-se ele, que trabalha em uma propriedade onde seu padrasto é o capataz.
Um menino coração
Assumindo que corre o risco por ser “bonzinho” em muitos dos momentos de sua vida, Matteus se considera como alguém que é chorão – principalmente quando o assunto é sua família. Ele mora com a avó, Dona Neuza, e se derrete toda vez que fala dela.
“Minha vó é tudo para mim, me criou, me deu a base de tudo. Sempre foi uma pessoa que nunca foi turrona, de me obrigar a fazer as coisas. Me ensinou o que era certo e disse para eu valorizar as coisas simples da vida”, conta.
Durante a pandemia da COVID-19, ele viralizou com um vídeo ao lado da avó, ultrapassando 1M de visualizações em uma rede social. “Fiz um post aleatório com a vó, cozinhando, como eu sempre faço, brincando. Postei e, do nada, meu celular começou a vibrar. Quando eu vi, de um dia para o outro, tinham 200 mil visualizações. Fiquei assustado, porque nunca tinha me relacionado com aquilo, ali”, relembra.
Ele relatou, ainda, que precisou trancar a faculdade aos 18 anos para dar suporte em casa após sua tia, que é pessoa com deficiência auditiva, fraturar o fêmur em uma queda, e precisar passar por uma cirurgia de risco. Como o turno da graduação era integral e o procedimento médico era caro, o jovem tomou a decisão, na época.
De olho na disputa
Quando se trata de jogo, Matteus sabe se posicionar: “Entro para ganhar, nunca vi ninguém como eu. Tenho firmeza para mostrar que minha cultura e meu jeito de falar são diferenciados”, pontua: “Eu me inscrevi porque quero conquistar o que é preciso para dar uma vida melhor aos meus familiares, porque eles merecem muito, muito mesmo”.