Nos últimos dias foi amplamente divulgada nas redes sociais e nos demais veículos de imprensa a redução populacional do município de Ipirá, divulgada pelo IBGE (instituto de geografia e estatística), segundo o referido instituto a população do município passou 59.343 habitantes em 2010, para 56.873 no ano de 2023. O resultado significa uma queda de 4.26% da população ipiraense.
A publicação desses dados, não me causaram espanto, pois, apontava essa provável redução muito antes do início do próprio censo, com base em análise empírica, observações e um pouco de intuição. É provável que no próximo censo essa redução na população ipiraense também seja apontada, pois, considero a política local Jacu/macaco, a principal responsável por esse fenômeno.
Para quem não mora em Ipirá, jacus e macacos, governam a cidade a décadas, disputando o poder a ferro e fogo, brigando entre si nas campanhas, mas genericamente falando, os componentes desses dois agrupamentos politiqueiros são “gêmeos univitelinos” ou “farinha do mesmo seco”, a ponto de vários integrantes ao longo de sua trajetória política, migrarem de um grupo para o outro. Independente do bicho que vence a eleição, as práticas politiqueiras, persistem e perseguir o desenvolvimento ipiraense, e perdura até os dias atuais, no qual tentam grosseiramente adaptar uma política arcaica, esdrúxula e medonha do século XIX, a realidade do século XXI.
Na briga entre jacus e macacos, quem sempre fica com o ônus é a população, sobretudo a população mais carente e no que tange as questões demográficas, principalmente a população jovem. Sendo bastante objetivo, o jovem ipiraense, pobre, já é penalizado pela precarização da educação desde as séries iniciais da educação infantil, o sistema político, sobretudo no âmbito legislativo – salvo exceções, mas também o executivo se alimenta do analfabetismo, sobretudo do analfabetismo político, para se eleger através da manutenção do voto de cabresto, gerido pelos chefes de curral eleitoral, negociado através da compra criminoso de votos, com bloco, botijões, chuteiras, marcação de exames e procedimentos médicos no SUS, etc.
Entre a população jovem que consegue terminar o ensino médio, parte é diretamente penalizada pela ausência de uma instituição pública de ensino superior, que ao longo dos últimos anos, é motivo de marketing político, por meio de diversas audiências públicas, que não derivam em nenhum resultado concreto, como consequência desse processo, ocorre a intensa migração de pessoas para cidades circo vizinhas, buscando vagas em instituições públicas. Essa parcela populacional que migra para estudar, dificilmente retorna ao município após a conclusão de seu curso, pois, o mercado de trabalho não oferece oportunidade de emprego, esses profissionais geralmente não são valorizados, com exceção daqueles que aderem à velha política jacu/macaco, e recebem por determinado período, os chamados cargo de confiança dentro do próprio poder público quem vem se transformado em uma máquina de encabrestamento de votos, ou quando em raríssimas ocasiões são aprovados em concurso público e uma pequena fração tenta empreender.
A outra parcela da população, que após a conclusão do ensino médio opta ou é forçada a procurar trabalho, possui como opção um fábrica de calçados, que atualmente enfrenta problemas financeiros e o seu futuro ainda é incerto, as produções informais de artefatos de couro – que apresentam um provável potencial para o desenvolvimento do município, mas não recebe assistência devida do poder público, o comércio local geralmente com baixos salários ou a informalidade, o resultado desse processo é um grande contingente populacional, que migra para os grandes centros urbanos.
Para o jovem camponês pobre, também na grande maioria dos casos, não resta outra possibilidade além da migração, pois, as pequenas propriedades onde residem com seus familiares, não possuem condições de garantir a geração de renda deles, com essa migração esvazia-se lentamente o espaço rural, perdemos aos poucos as tradições do campesinato, que insistem erroneamente em chamar de agricultor familiar, aqueles que sempre foram camponeses.
Outra parcela da população ainda mais pobre, no campo e na cidade muita das vezes, nem completam o ensino médio, pois, são forçados a buscarem trabalho de maneira precoce e em alguns casos são absorvidas pela criminalidade. De todas as maneiras, é visível que o sistema político ipiraense é um sistema inimigo da juventude, e contribui significativamente para a intensificação da migração. Costumo afirmar que somos um município exportador de mão de obra de qualidade, uma espécie de migração de cérebros. Para os que ficam, restam ter bastante resiliência e fé em Deus, enfrentar os efeitos colaterais da politicagem arcaica – ou se juntar a ela, sofrer com uma precariedade da saúde, educação entre outras mazelas.
É preciso, porém, ter a honestidade de afirmar a complexidade da situação, e não a tratar como se fosse algo simples de solucionar. Não será como um passe de mágica que a atual gestão nem a próxima resolverá o problema, mas afirmo a necessidade urgente de tomada de consciência, e de pensarmos sobretudo enquanto sociedade, sobre possíveis soluções para a questão ou continuaremos a crescer feito rabo de cavalo, cada vez mais para baixo.
Sabendo da atual conjuntura política polarizada e da inexistência de uma terceira opção efetiva, que apresente algo de diferente, resta a sociedade, sobretudo a população jovem, a problematização da situação e uma mudança de consciência coletiva, basta de balançarmos a bandeira jacu/macaco e transformar a nossas eleições municipais em carnaval, comícios falaciosos e carreatas festivas. A realidade social e demográfica do município, não mais permite, que encaremos as disputas eleitorais como se fosse um jogo de futebol ou uma corrida de cavalos.
É precioso que saibamos, que só existem jacus e macacos, porque nós, ainda preservamos essa maldita tradição, que serve apenas para a manutenção das elites no poder, que se tornam ainda mais ricas, enquanto nossa gente vive mal e a juventude é “expulsa” diariamente do nosso município. Tenho plena consciência, que não solucionaremos tais problemas de forma simples e fácil, mas continuar ignorando os mesmos, torno-os ainda piores e mais complexos.
Por Eziel Mascarenhas