A tensão gerada no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro após a prisão dele, há dez dias, voltou a aparecer nesta terça-feira (2), quando o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) visitou o pai na superintendência da Polícia Federal e comentou, pela primeira vez, o racha interno entre Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente.
Ao deixar o local, Flávio afirmou que tentou apaziguar os ânimos e que procurou a ex-primeira-dama para uma conversa direta após o episódio. “Já me resolvi com a Michelle”, declarou a jornalistas, acrescentando que ela também lhe pediu desculpas.
A reconciliação ocorre depois de dias de atrito entre Michelle e os enteados, deflagrado quando o PL no Ceará decidiu apoiar uma eventual candidatura de Ciro Gomes (PSDB) ao governo do estado. A articulação, comandada pelo deputado André Fernandes (PL-CE), teria, segundo ele próprio, recebido aval de Jair Bolsonaro antes da prisão. Fernandes disse publicamente que o ex-presidente pediu que a ligação ao tucano fosse feita “no viva-voz”.
A decisão, porém, desagradou Michelle. Ao participar do lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo estadual, ela criticou o alinhamento com Ciro, afirmando que o partido se precipitou e rejeitando aliança com um político que, segundo ela, “é contra o maior líder da direita”. A ex-primeira-dama, que comanda o PL Mulher, também lembrou que Ciro chamou Jair Bolsonaro de “ladrão da rachadinha” e o responsabilizou pela condução da pandemia.
As falas de Michelle foram mal recebidas pelos filhos do ex-presidente. Flávio disse ao portal Metrópoles que ela “atropelou” Bolsonaro e classificou a postura como “autoritaria e constrangedora”. O senador Eduardo Bolsonaro, dos EUA, chamou a atitude de “injusta” e “desrespeitosa”, enquanto Carlos Bolsonaro defendeu a necessidade de preservar as decisões do pai e não se deixar levar por “outras forças”.
Diante da escalada pública da crise, Michelle publicou uma nota na madrugada desta terça pedindo perdão aos enteados. Embora tenha reforçado a discordância sobre Ciro — “como ficar feliz com o apoio à candidatura de um homem que xinga o meu marido de ladrão de galinha, de frouxo e tantos outros xingamentos?” —, ela disse respeitar as diferenças de opinião.
Segundo Flávio, a conversa entre os dois foi longa e serviu para explicar que ainda não há decisão final sobre palanques estaduais. Ele afirmou também que analisará os cenários com a participação de Michelle, mas reforçou que “a decisão final partirá do pai”, mesmo preso e inelegível.
A crise não se limita ao núcleo familiar. Dirigentes do PL marcaram uma reunião emergencial para esta terça-feira para tentar conter o desgaste. A avaliação interna, segundo aliados, é de que Michelle extrapolou ao criticar uma decisão partidária e enfraqueceu suas chances de participação em uma eventual chapa presidencial em 2026.
Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, pretende orientar a ex-primeira-dama a evitar declarações sobre estratégias eleitorais sem consulta prévia à cúpula — especialmente a ele e a Flávio, que deve assumir maior protagonismo no comando político durante a prisão do pai.
Fonte: O Cafezinho





