O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), está tomando “muita pancada” em razão das denúncias sobre o esquema de candidaturas de laranjas do seu partido na eleição de 2018.
A afirmação do parlamentar ocorreu em uma transmissão ao vivo que fez em uma rede social na noite deste sábado (19).
O esquema de candidaturas laranjas do PSL, revelado pela Folha em uma série de publicações desde o início do ano, está entre as razões da crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo do deputado federal Luciano Bivar (PE), presidente da sigla, e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido.
O escândalo já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.
Em cerca de 20 minutos de transmissão, o filho do presidente tentou explicar, em sua visão, os motivos da crise que assola o PSL há pouco mais de dez dias. Ele defendeu o pai, criticou colegas e disse que os recentes episódios protagonizados por lideranças da legenda dão “nojo” e “asco”, fazendo também referência a áudio vazado nesta semana.
No arquivo, o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), chama Bolsonaro de vagabundo.
No vídeo, Eduardo citou três acontecimentos em ordem cronológica que deram força para a conjuntura caótica: o pedido de seu pai para um apoiador esquecer o PSL e não atrelar seu nome ao “queimado” Bivar, o pedido de obstrução feito por Delegado Waldir em meio à votação de uma medida provisória na semana passada e o pedido de Jair Bolsonaro por uma auditoria nas contas da legenda, motivado, segundo ele, pelo laranjal.
O filho do presidente se envolveu diretamente na crise do partido. Deputados bolsonaristas tentaram depor Waldir, que é ligado a Bivar, e substituí-lo por Eduardo. O próprio presidente atuou nesse sentido. A tentativa naufragou, mas escancarou o racha na legenda.
Na quinta (17), em meio à crise na legenda, o Planalto suspendeu a indicação do filho do presidente para a embaixada do Brasil em Washington.
Na transmissão ao vivo, Eduardo negou que tenha sugerido seu próprio nome para a função, disse ter entrado na briga porque era o único de consenso do grupo bolsonarista e porque não iria “se acovardar diante dos fatos”. Também chamou Waldir de imaturo.
Eduardo passou a maior parte do vídeo defendendo o pai e tentando desconstruir recentes declarações de deputados do PSL que, agora, se colocam contra o presidente.
“Não caia nessa ladainha. O Bolsonaro ficou 30 anos naquele meio promíscuo. Pelo amor de Deus, cuidado com essas pegadinhas”, disse. “As pessoas estão com mania de achar que são mais inteligentes que o presidente. O Bolsonaro é um craque. Bolsonaro elegeu 50 pessoas que eram desconhecidas da população. Se elegeu sem gastar R$ 1 milhão [na verdade, o custo declarado da campanha presidencial foi R$ 2,5 milhões]. Ficou 30 anos no meio da sacanagem sem se envolver em escândalo”.
Ele também defendeu Bolsonaro de críticas por ter interferido na organização do partido na Câmara.
“Ele [presidente] está fazendo um projeto pro Brasil e o partido dele dentro da Câmara tá indo contra o presidente, porra. O que você acha que ele tem que fazer?”, declarou.
Eduardo ainda aproveitou a transmissão para mais uma vez atacar a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que foi destituída na quinta-feira (17) pelo presidente da República da liderança do governo no Congresso.
“Ela [Joice] disse no Facebook que ‘está deixando a liderança’. Deixando nada, ela foi de-mi-ti-da. Foi cortada a cabeça, porque quebrou a confiança do presidente”, disse. “E ela está muito irritada porque a liderança do governo tem 30 cargos e da noite para o dia ela perdeu isso. Ela vai dizer que está leve, mas se tem uma coisa que ela não está é leve”.
Em uma reunião durante a semana, a deputada se referiu a Eduardo como um “menino” que não consegue fazer nada sozinho. Os dois têm trocado insultos e acusações via redes sociais.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, um grupo de deputados ligados a Bivar apresentará neste domingo (20) ao partido uma requisição pedindo que Eduardo seja suspenso e levado ao comitê de ética da agremiação.
Cinco deputados aliados a Bolsonaro já foram suspensos pela direção do PSL. Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) devem ser tirados do comando dos diretórios de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Ao deixar o Palácio da Alvorada na noite deste sábado (19) para viajar para o Japão, Bolsonaro desceu do carro oficial para cumprimentar um grupo de apoiadores. Indagado se, na volta da viagem, ainda vai estar no PSL, o presidente respondeu: “Pergunta pra eles”.
Por Folhapress