A ex-juíza federal Claudia Bauer afirmou ter sido vítima de agressão por parte do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR) e denunciou a existência de um esquema que classificou como “máfia” no sistema judicial ligado à Operação Lava Jato. As declarações foram feitas em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, na TV 247.
Bauer, que vive atualmente nos Estados Unidos, relatou sentir-se segura apenas por estar longe de Curitiba. Ela afirmou que a recente operação de busca e apreensão realizada na 13ª Vara Federal abriu espaço para que episódios antes silenciados fossem revelados.
A ex-magistrada, que atuou por mais de 20 anos na Justiça Federal, contou ter enfrentado dificuldades emocionais ao revisitar sua trajetória. Ela relatou sofrer taquicardia ao falar sobre o caso e afirmou considerar-se vítima de lawfare.
Segundo Bauer, os primeiros indícios do que classificou como “entidade mafiosa” surgiram durante um plantão judicial, quando teria encontrado um habeas corpus pendente de cumprimento. Ela relatou que servidoras ligadas à 13ª Vara tentaram impedir a expedição de alvará de soltura de um investigado ligado à Petrobras. Após determinar o cumprimento da decisão superior, Bauer disse ter constatado que a ordem havia sido apagada do sistema.
A ex-juíza afirmou que o episódio resultou na abordagem de Sergio Moro dentro do elevador reservado a magistrados. Segundo ela, o então juiz teria segurado sua garganta e ordenado que permanecesse calada. Bauer disse ter entrado em estado de choque e relatou que o impacto físico do episódio foi imediato.
Sem confiança nos mecanismos internos de controle, Bauer buscou orientação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela relatou que o ministro pediu que contasse apenas a ele o ocorrido. Meses depois, Zavascki morreu em um acidente aéreo em Paraty.
Bauer disse ainda que passou a se sentir vigiada após o episódio, relatando a presença frequente de um carro da Polícia Federal em frente à sua residência. Ela afirmou ter comprado um carro blindado por medo de retaliações.
A ex-magistrada relatou ter procurado corregedores e integrantes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) para denunciar irregularidades, mas afirmou que nenhuma providência foi tomada. Segundo ela, as mesmas pessoas ligadas à operação teriam se revezado em cargos estratégicos ao longo dos anos.
Bauer afirmou que o ambiente de pressão resultou em sofrimento psíquico grave, levando-a a considerar o suicídio e, posteriormente, a abandonar a carreira na magistratura.
Ela também criticou práticas que atribuiu à Lava Jato, como ocultação de habeas corpus, desrespeito a decisões do STF e uso político de investigações. Bauer citou relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que apontou crimes atribuídos a magistrados e procuradores ligados à força-tarefa.
A ex-juíza afirmou que o documento está parado na Procuradoria-Geral da República e cobrou ação institucional. Ela questionou a ausência de posicionamento de entidades de classe e defendeu que a magistratura esclareça os episódios envolvendo a 13ª Vara Federal.
Durante a entrevista, Bauer relatou participação em cursos oferecidos por órgãos dos Estados Unidos a juízes e procuradores brasileiros e criticou o conteúdo das formações. Ela classificou a Lava Jato como caso de “guerra híbrida”, citando narrativas difundidas internacionalmente sobre a operação.
Bauer hoje atua como advogada na área de direito climático. Na entrevista, afirmou que ainda convive com os impactos do passado e defendeu que a Justiça brasileira apure os episódios ligados à Lava Jato, que classificou como “o maior erro judiciário do mundo”.





