A possibilidade de uma nova paralisação dos caminhoneiros voltou a ser ventilada nos últimos dias. Na sexta-feira (6), em evento na Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio de Janeiro, Marconi França, apontado como um dos representantes da categoria, convocou os trabalhadores para greve entre domingo (15) e segunda-feira (16). Em vídeo divulgado nas redes sociais, França diz que a deliberação é de lideranças de diversas regiões do país. 

— Nós precisamos e queremos o apoio de você da população. Você dona de casa, dono de casa, pai de família que não está satisfeito com o preço da gasolina, com o preço do óleo diesel, com o preço do botijão de gás junte-se a nós, porque essa briga é de todos — afirma.

O chamamento é visto com desconfiança por outras lideranças dos caminhoneiros, que não acreditam em grande adesão ao ato. 

O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos no Rio Grande do Sul (Fecam-RS), André Costa, afirma que essa manifestação tem caráter político partidário e não está sendo promovida por entidades validadas pela categoria ou pelo meio sindical do transporte autônomo. Reconhecendo o descontentamento dos colegas de profissão com as condições de trabalho no país, Costa avalia que o cenário não é o melhor para os caminhoneiros cruzarem os braços: 

— Não é momento, nem político, nem econômico, de se fazer qualquer movimentação, já que continuamos em mesa de negociação, avançando a cada dia. Não é uma coisa fácil. Não vamos conseguir em 365 dias ou em 700 dias resolver um problema de cinco décadas. Não existe essa varinha mágica.

O fato de uma das convocações para a paralisação ter ocorrido em uma das sedes da CUT irritou parte dos caminhoneiros, segundo representantes dos trabalhadores, que enxergam na ação uma maneira de usar a categoria para interesses políticos. O chefe da Fecam-RS disse que diversos colegas repudiaram essa ação em grupos de WhatsApp

Aldacir Cadore, membro da diretoria de cooperativa que representa caminhoneiros autônomos da região de Brasília, não acredita em grande adesão ao protesto. 

— Usar entidade, seja ela de esquerda ou de direita, não tem nada a ver com a nossa categoria. A classe está insatisfeita com essa política da Petrobras, mas não é a CUT que vai nos ajudar. 

O presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, diz que a entidade não é contra e nem a favor da manifestação. No entendimento de Silva, existem outros meios de lutar pelos direitos do caminhoneiros e esse tipo de protesto acaba atrapalhando, pois cria muitos representantes da categoria com diversos interesses. 

— Tem gente se aproveitando do movimento para aparecer e fazer alguma coisa no futuro — disse Silva. 

Presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí, uma das principais entidades do Estado mobilizada na greve de 2018, José Cecchetto disse que a adesão ou não ao ato programado para a semana que vem será discutida em reunião no fim da tarde desta segunda-feira (9). Não adiantando avaliação sobre o tema, Cecchetto afirmou que os caminhoneiros estão praticamente pagando para trabalhar.

Até o momento, governo e caminhoneiros seguem discutindo as reivindicações da classe. O preço dos combustíveis e a tabela dos preços mínimos do frete estão no centro do debate. 

A reportagem tentou contato com a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), mas não obteve retorno até as 15h30min. 

Em 2018, greve dos caminhoneiros provocou desabastecimento em várias cidades do paísRonaldo Bernardi / Agencia RBS

Fonte: Gaúcha ZH