O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL) recebeu na tarde desta quinta-feira (17) a visita do ex-presidente Lula (PT) no hospital Sírio- Libanês, no Centro de São Paulo. Renan está internado no hospital desde a última segunda-feira (14), quando foi submetido a uma cirurgia para retirada de um câncer no rim direito e também passou por uma biópsia na região do pâncreas.
A visita de Lula foi registrada nas redes sociais do senador alagoano e mostra os dois políticos sem máscaras no quarto do Sírio-Libanês, que orienta todos os visitantes a usarem a proteção durante o período de permanência no hospital. Com 74 anos, Lula faz parte do grupo de risco da Covid-19, assim como Renan Calheiros, que tem 65 anos.
Na postagem ao lado de Lula, Renan Calheiros afirma que foi questionado pelo petista sobre seu estado de saúde e disse que aguenta “jogar 90 minutos, mas não garante a prorrogação”.
“Recebi a visita do ex-presidente @lulaoficial no hospital. Durante a conversa, ele me perguntou se eu estava bem. Respondi que aguento jogar os 90 minutos, mas que a prorrogação não garanto”, disse Renan nas redes sociais.
Defesa
Na quarta-feira (16), Renan postou um vídeo nas redes sociais afirmando que tem sofrido “desgaste físico e mental” por ser alvo constante do que ele chama de “perseguição sem fim” e de processos com “absoluta falta de provas”.
O senador se referia à conclusão na segunda-feira (14) de um inquérito pela Polícia Federal que apontou que há “evidências robustas” de caixa 2 em doações da Odebrecht recebidas por Calheiros. O resultado do inquérito foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Os investigadores apontam que Renan recebeu R$ 500 mil em doações do grupo Odebrecht nas eleições de 2010 pelo setor financeiro paralelo da empresa. O caixa 2 ocorre quando o dinheiro é recebido pelo candidato, porém não é declarado à Justiça Eleitoral.
No vídeo gravado no hospital, Renan afirmou que a denúncia é uma “tentativa inútil de criminalizar doações legais” e “uma sentença de morte em vida” contra ele.
“É uma verdadeira tortura. Falo do hospital justamente para deixar esse registro histórico dos tempos sombrios que vivemos. Ontem mesmo, saindo da cirurgia, fui instado para responder pela 10ª vez a uma denúncia improcedente, nascida de uma delação onde todos os delatores negaram a imputação inicial. Quatro anos depois a investigação novamente não apresenta fatos nem provas, mas apenas indícios. Tentativa inútil de criminalizar doações legais”, afirmou Calheiros.
“Fala-se muito em assassinato de reputações, essas acusações seriadas sem provas, materialidade ou fatos, equivalem a uma sentença de morte em vida. Assassinato mesmo. A duras penas faço a minha defesa técnica, mas, do outro lado, ninguém controla as reações do corpo diante de tanta maldade e tanta perversidade. Sou um ser humano e o corpo também se abate”, completou o senador.
Inquérito da Polícia Federal
A investigação aponta que o dinheiro da Odebrecht foi pago em duas parcelas de R$ 250 mil, entre 20 de agosto de 2010 e 15 de setembro de 2010. De acordo com a PF, os repasses foram viabilizados por um doleiro da Odebrecht, com o objetivo de manter uma boa relação com o político e, eventualmente, obter benefícios para a empresa.
“Há elementos concretos e relevantes no sentido da existência de materialidade e autoria dos crimes investigados no presente inquérito, encontrando-se presentes indícios suficientes de que o senador José Renan Vasconcelos Calheiros cometeu o crime previsto no art: 350 do Código Eleitoral, na modalidade ‘caixa 2′”, escreveu a delegada da PF Rejane Nowicki.
Segundo o inquérito, o parlamentar recebeu o dinheiro um hotel de Maceió. No sistema da empresa, o senador era identificado pelo codinome Justiça.
Com a conclusão da PF, o ministro Marco Aurélio Mello, que é o relator do caso, deve encaminhar o inquérito para a Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se há ou não elementos para que o senador seja denunciado ao STF. A PGR pode pedir ainda mais prazo para as investigações ou até mesmo apontar o arquivamento, caso entenda que não há indícios contra o senador.
Em nota, a defesa de Renan Calheiros afirma que as contas de campanha “foram auditadas e aprovadas, que não há indícios de irregularidades e os próprios delatores negaram os repasses como caixa 2”.
“Não há nessa investigação, assim como nas mais de 2/3 já arquivadas, nenhuma prova. Tanto que depois de anos de investigação falam em ‘indícios’ de irregularidade. Mesmo assim, mais uma vez, a notícia é dada pela óptica dos investigadores”, prosseguem os advogados.
Fonte: G1