Ignorando as críticas à falta de liberdade de expressão no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a imprensa angolana durante entrevista coletiva juntamente com o presidente do País, João Lourenço, no sábado (26), em Luanda. “Nunca vi imprensa tão comportada. Acho que é porque você (o presidente angolano) tá aqui… No Brasil a imprensa não é tão comportada assim, ela cobra mais”, ironizou Lula.
O presidente João Lourenço foi reeleito em agosto do ano passado pelo Movimento pela Libertação da Angola (MPLA), que governa o país há 47 anos. Em segundo lugar, ficou o partido opositor União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) com 43% da votação, que não reconheceu a vitória do presidente.
Há anos, a organização não governamental OMUNGA tem denunciado a “asfixia” da liberdade de imprensa devido à “onda de perseguições e intimidações” que visam jornalistas. Em março, o governo ameaçou suspender a emissão do canal digital Camunda News, cujo proprietário, David Boio, tem sofrido pressão das autoridades. Para a ONG, Angola vive “em clima de medo”.
“Falar de liberdade de imprensa num país onde o Estado detém o monopólio da imprensa, com todo respeito pelos estudos, mas a realidade mostra outra coisa. Somos todos controlados a partir das redes sociais. O país está a caminhar para uma ditadura do que propriamente para uma democracia que tanto almejamos. Gostaríamos que gozássemos das nossas liberdades constitucionais. Mas infelizmente não está acontecer. A liberdade de imprensa começa a ser alvo do regime, para a sua manutenção no poder.”, declarou João Malavindele, diretor executivo da ONG ao portal alemão DW África.
Em abril deste ano, a capital angolana, Luanda, sediou um debate organizado pelo Observatório de Imprensa e de Comunicação sobre o sistema político vigente no país. O Observatório de Imprensa e de Comunicação é uma organização da sociedade civil que monitora e avalia o desempenho da imprensa angolana, coordenada pelo professores e escritor Domingos da Cruz.
Vários pensadores analisaram a legislação e a prática e concluíram que Angola não vive numa democracia. O jornalista angolano José Gama esclareceu que, apesar de não haver um “autoritarismo puro como da Coreia do Norte, o sistema controla tudo e todos, permite manifestações mas reprime”, declarou à agencia americana VOA.
Como é o jogo de poder em Angola
Angola é uma das seis nações africanas que têm a língua portuguesa como idioma oficial devido à colonização. O MPLA, de orientação como marxista-leninista foi o movimento político que liderou a independência do país em agosto de 1975, pouco mais de um ano depois da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que derrubou a ditadura salazarista de Portugal. Agostinho Neto, líder do MPLA, instalou um governo inspirando no socialismo soviético. O partido saiu vitorioso nas eleições desde então.
Além do MPLA, o processo de independência também foi protagonizado pela Frente Nacional de Libertação de Angola a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Os três grupos que combateram o colonialismo português lutaram entre si pelo controle do país.
Cada um deles era apoiado por potências estrangeiras, dando ao conflito uma dimensão internacional. Enquanto o MPLA teve o apoio de Cuba e da União Soviética, controlando a capital e algumas regiões da costa; o UNITA era apoiado pela África do Sul do apartheid; e a FNLA teve apoio da China.
Créditos: Gazeta do Povo.